Introdução, panorama geral, definição e principais manifestações
“Eu adoro uma boa conversa”, disse Melissa. “Adoro um bom debate, inclusive, uma conversa franca e estimulante, em que os dois lados estão realmente interessados em chegar a uma conclusão sólida. Sei conversar sobre outras coisas mais leves ou efêmeras, mas não deixo de gostar quando posso apresentar minhas ideias e ser contestada por outra pessoa para que possamos discutir sobre isso com imparcialidade. É muito estimulante”.
“Acho que quem me conhece de longe tem uma visão bem equivocada de mim, mas é só porque eu separo muito bem as coisas”, falou Flávio. “Tem uns que me veem como formal demais, ou, pior, outros que acham que eu vivo sério, mas é porque me conheceram nos ambientes em que eu preciso ser sério, claro. Se eles vissem meu Twitter pessoal… hahaha, acho que teriam uma opinião bem diferente”.
“Claro que eu tenho meus incômodos com o Judiciário como ele funciona”, reclamou Vinícius, “mas é justamente por isso que quero ser juiz. Não vai ser me revoltando de forma burra ou xingando o judiciário que eu vou fazer uma mudança positiva e produtiva por aquilo em que acredito. Eu quero ser juiz porque percebo que essa é a melhor forma de fazer justiça e, quem sabe, até mesmo ajudar a mudar o próprio Judiciário”.
“… por isso, eu discordo, acho que você não considerou alguns fatores”, terminou Jorge.
“De fato, você me convenceu”, respondeu Carla. “Acho até engraçado que algumas pessoas me vejam como inflexível ou cabeça-dura, porque realmente é uma imagem errônea. Você realmente apresentou novos fatos e raciocínios e me convenceu, tão simples quanto isso. Eu sou uma pessoa extremamente aberta a ser convencida”.
“E pode parecer esquisito para outras pessoas”, seguiu Amanda, “mas eu realmente me sinto bem quando me percebo fazendo um trabalho bem-feito que eu programei o tempo certo para fazê-lo. Isso acontece quando estou sozinha, mas também acontece quando estou em grupo. Acho que alguns amigos me chamam de doida, mas eu adoro sair de uma reunião, seja de trabalho ou não, e perceber que aquilo tudo foi super produtivo”.
“Quer você goste ou não, tem um método pro que eu estou fazendo. Eu estudei pra isso porque quero trabalhar de forma inteligente, não de forma exaustiva. Eu sei que você pode não entender, mas existe um estudo teórico e prático por trás do que eu faço e todo um processo criativo bem sério que eu mesmo desenvolvi com base nisso, justamente para maximizar a nossa eficiência, OK?” disse Gabriel.
“Ganhar é uma coisa muito legal, assumo. Mas ver que você ganhou por mérito, porque fez algo do jeito esperado, porque criou em cima disso, é ainda mais gratificante”, suspirou Tainá. “A vitória dá uma sensação de poder e controle, e a vitória por mérito dá uma sensação também de competência, de valor, que eu não trocaria por nada”.
Olhando bem fundo pela janela, Leonardo pensou um pouco e disse: “Eu sei deixar meus gostos de lado quando preciso. Sei separar as coisas. Estudo sobre coisas que preciso e sobre coisas de que gosto, porque gosto de aprender. Acabo me doando bastante para essas coisas, e isso é bom. Mas às vezes eu tenho medo de me perder no processo. Tenho medo de me jogar tanto naquilo que eu preciso ser que eu perco o que sou, sabe? Acho que vivo num caminho linear”, terminou.
O Pensamento Extrovertido (Te) é uma função altissimamente impessoal em sua tomada de decisões. Embora isso não faça pessoas necessariamente frias, ele dá a oportunidade e a facilidade de um pensamento que evita apegos pessoais na hora de se tomar decisões, principalmente aquelas que têm impacto no mundo externo. A capacidade do Pensamento Extrovertido de lidar de forma impessoal com as ideias e os consensos intelectuais, técnicos ou lógicos dos ambientes e grupos que frequenta, construindo e criando a partir deles, é inigualável. O Te opera melhor quando pode usar, articular e construir a partir de modelos de pensamento externos a ele, geralmente de preferência com algum tipo de empiria, sem que formas de raciocínio muito pessoais ou destacadas do mundo externo interfiram em seu processo decisório. Claro, isso facilita uma relação produtiva e profícua com o mundo, justamente pelo Pensamento Extrovertido operar numa frequência semelhante ou idêntica com ele, o que facilita que ele possa ajudar na construção de estruturas que beneficiem não apenas a si mesmo, mas o mundo à sua volta, de preferência de forma impessoal ou com algum grau de impessoalidade. Assim, para se entender como o Te é capaz de articular esses conhecimentos, raciocínios e estruturas, é importante entender o mecanismo de funcionamento da lógica objetiva que o orienta.
Por ser uma função racional, o Te tem princípios e se orienta para eles. O Pensamento Extrovertido precisa encontrar, vincular-se e dialogar com princípios impessoais e lógicos que existam fora do indivíduo. Por isso, muitas das falas e comportamentos do indivíduo são vistos por ele mesmo como puramente impessoais, imparciais e objetivos, sem que haja um apego valorativo ao objeto que, na visão do Te, turvaria os julgamentos. Assim, o Pensamento Extrovertido vincula-se ao que aqui é chamado de estruturas: grupos articulados de informações ou lógicas ou conhecimentos ou normas ou ideias ou coisas semelhantes que podem ser, de alguma forma, construtivos, produtivos ou justos, sempre imparciais ou impessoais no julgamento. Como é extrovertido, e, portanto, direcionado ao objeto, o Te tem grande inclinação a querer construir junto e a partir desse objeto. O Pensamento Extrovertido floresce na comunicação construtiva com o objeto que defina e aproveite lógicas consensuais e compartilhadas fora do apego subjetivo. Assim, além de construtivo, o Pensamento Extrovertido pode ser bem criativo, justamente porque ele é uma função altamente interessada em construir e criar com o objeto, algo que seja funcional para a sociedade, ou seu grupo, ou seu entorno, ou ao menos algo que tenha validade objetiva. É por isso que, para muito do que o indivíduo com Pensamento Extrovertido forte faz, existe um método claro e extraído externamente, ou uma teoria, ou um estudo técnico, que dialoguem com ideias e procedimentos de fora e impessoais ao indivíduo. Dois temas comumente importantes para os usuários de Pensamento Extrovertido são, pois, os de eficiência e competência. O estabelecimento de parâmetros validados pelo objeto, mas não necessariamente pela “sociedade” (dado o vínculo impessoal) compele o Te, mais que outras funções, a priorizar uma empiria que valide esses parâmetros e princípios por sua eficiência e aplicabilidade, tanto para temas epistêmicos como de justiça, ou mesmo formas de lidar com o cotidiano e as pessoas.
Assim, muito do Pensamento Extrovertido dialoga com temas de ciência empírica, da academia, de normas jurídicas ou procedimentais, ou de teorias que tenham algum aporte claro e bem fundamentado. Sobre isso, é importante notar duas coisas: em primeiro lugar, a despeito de outras interpretações simplistas da função, o Pensamento Extrovertido não é uma função meramente “empresarial”, focada em eficiência de lucros ou produtividade, muito menos necessariamente “prática”, também no sentido de eficiência produtiva. Essa visão organizacional e simplista, fomentada inclusive por quem fetichiza as funções, não aborda toda a potencialidade da função para outros campos, e reduz-a a uma função que seria “produtiva” e “trabalhadora”. É claro que, no funcionamento atual da sociedade, as maiores expectativas e as principais estruturas gravitam ao redor da produtividade empresarial e monetária, então é realmente comum que muitos usuários de Te tenham isso em mente e se engajem com esses temas, inclusive com bastante qualidade às vezes. A tentativa de construir e se adaptar a estruturas impessoais pode, de fato, levar a uma abordagem mais “empresarial” até para outros temas do cotidiano do indivíduo. No entanto, algo da lógica empresarial que passa bem longe do Pensamento Extrovertido é o sacrifício de certas estruturas em nome do ganho material ou da materialidade. Em segundo lugar, ainda que de fato a maioria dos usuários de Te forte aproveite e construa estruturas impessoais também em sua vida cotidiana, seus hobbies ou suas conversas, não basta muito para pensar que, na vida pessoal, certamente existe algo de pessoalidade. Nem todos os usuários de Te percebem essa forma de lidar impessoal quando estão envolvidos em coisas de que gostam, porque, claro, existe mais envolvimento subjetivo, de onde parte muito da identidade do indivíduo. Assim, é importante também denotar que são muito poucos os usuários de Te que se veem apenas pelo prisma da impessoalidade ou do vínculo com as estruturas. As funções de percepção, muito usadas pelos usuários de Pensamento Extrovertido em seus momentos cotidianos e de lazer, são importantes para uma autoimagem menos rígida desses indivíduos.
Por terem facilidade com o entendimento e o uso dos consensos lógicos externos, além da busca de verificação ou indexação externa de sua tomada de decisões, o Pensamento Extrovertido também favorece a troca de ideias, informações e raciocínios entre as pessoas de uma forma construtiva. Existe muito do Pensamento Extrovertido na cultura de um debate que seja não meramente retórico, mas sim embasado e profundo, engajado com o convencimento e com o estabelecimento de novos consensos. Por isso, é bastante comum que haja pessoas de Pensamento Extrovertido dominante com falas bem estruturadas, articuladas e convincentes, mas também fortemente abertas a serem convencidas se outro raciocínio parecer mais estruturado ou estruturante. Isso é bem mais incomum no Pensamento Extrovertido auxiliar, pela costumeira dificuldade de articulação da Percepção Introvertida, embora não seja impossível.
Também pelo motivo apresentado acima, é importante explorar a relação entre o Pensamento Extrovertido e o autoritarismo. É imensamente errôneo associar a função à agressividade, à violência ou à imposição corporal baseada em hostilidade ou intimidação. As possibilidades de autoritarismo do Pensamento Extrovertido passam por um caminho muito pouco agressivo e nem sempre são postas em prática. O objetivo do Te é construir junto com o objeto, dialogando com suas ideias e parâmetros lógicos, o que significa que o modus operandi da função, quando saudável e criativa, é o convencimento e a conversa construtiva, independente, inclusive, de relações de autoridade. Na maioria das vezes, o autoritarismo é apenas uma ferramenta, também impessoal, de preferência inferior. Claro, no entanto, existe uma tendência ligeiramente autoritária latente no Pensamento Extrovertido dominante, que reflete algo mais comum no Pensamento Extrovertido baixo (terciário e inferior). Pelo Te dedicar-se tanto à criação de um parâmetro objetivo e funcional, aplicável pelo e no objeto, é natural que ele considere esse parâmetro digno de ser universalizado. Em alguns casos, a resistência do objeto perante um parâmetro ou estrutura que, em outros lugares ou por outros raciocínios, seria objetivamente eficiente e aceitável, pode fazer com que o usuário de Te adote uma postura autoritária e impositiva. No entanto, isso majoritariamente advém de uma relação insegura, simplista ou infantil com essas estruturas. Portanto, ela é mais característica de usuários de Te em posição baixa, ou de usuários de Te em uma manifestação bem doentia tanto dessa função quanto de seu oposto, o Sentimento Introvertido.
Em manifestações mais criativas, o Pensamento Extrovertido se prova extremamente útil em vários ambientes em que a universalização de parâmetros e práticas seja principal. Os campos da política e do direito são bons exemplos. O direito lida essencialmente com a justiça. Para ser universalizada dentro de um território, ela precisa ter parâmetros claros de decisão sobre cada caso que se apresenta como relevante para a sociedade. A justiça dá a cada o que lhe compete e trata os iguais igualmente e os desiguais desigualmente, com base em critérios facilmente observáveis e justificáveis perante todos. O campo da política, praticamente indissociável do campo da justiça, evidencia ainda mais a necessidade construtora e criativa associada ao Pensamento Extrovertido. A política cria projetos e programas, normas e parâmetros, que afetam, universalmente, os sujeitos daquilo que foi produzido. Ela precisa lidar com um alto grau de pragmatismo e objetividade, mas também é carregada de idealismos em nome de projetos de sociedade que devem ser favorecidos. Não por menos, existe um número significativo de usuários de Te no executivo, no legislativo e no judiciário, ambientes em que eles podem usar formas de raciocínio e teoria consensuais para alcançar objetivos coletivos. Os 5 princípios da administração pública refletem bem a associação entre o campo do Estado e o Pensamento Extrovertido: legalidade, impessoalidade, moralidade administrativa, publicidade e eficiência.
No caso da eficiência, inclusive, algo muito presente em usuários de Pensamento Extrovertido é a inclinação a usar critérios mensuráveis e observáveis para suas metas e objetivos, que frequentemente são comentadas com facilidade e interesse (afinal, o mundo externo é uma fonte de input e troca sobre a lógica externa e o “estado da arte” dessas ideias impessoais). É comum que indivíduos com Pensamento Extrovertido tenham padrões bem altos e significativamente fáceis de mensuração sobre o que é recomendável de ser feito. Claro, em muitos, isso também leva a um criticismo, às vezes profícuo, às vezes nem tanto. Isso se deve porque, muitas vezes, a função que trabalha com estruturas, por se ver como sabendo o que é bom para elas, também busca ter controle sobre essas mesmas estruturas. É principalmente nesse controle, cercado de impessoalidade (ou pretensa impessoalidade) que pode surgir algo de maquiavelismo em alguns usuários de Te. Em certos indivíduos e momentos, a tentativa de impessoalidade descola do trato justo e descamba em um pragmatismo interessado em metas, objetivos e controle sem efetivamente uma âncora principiológica coerente. Embora essa não seja a regra para os Te-dominantes, essa manifestação é sobrerrepresentada na ficção, porque funciona muito bem em vilões ou personagens vilanescos. O estereótipo, já um pouco batido, do personagem “frio e calculista”, ambicioso e pragmático, sendo bem intencionado ou egoísta, geralmente casa muito em vários vilões ExTJ (Te-dominante). Até mesmo aqueles que parecem distantes das pessoas, por estarem imersos no objeto e no Pensamento Extrovertido, seguem bastante esses tipos. Claro, isso pode gerar dois problemas: o primeiro é a associação errônea de que o Pensamento Extrovertido é uma função má, agressiva ou vilanesca, fazendo com que pessoas que apresentam outras manifestações mais amigáveis e positivas da função percam a identificação. O outro, pelo contrário, é a identificação em demasia com a função de pessoas que querem-na usar como desculpa para sua falta de caráter. Há que se lembrar o caráter variado da função: se ela fosse por si só uma função maquiavélica, não seria sequer possível conviver com esse tipo em sociedade. A impessoalidade é multifacetada.
Por ser uma função altamente impessoal e empírica, há muito do pensamento científico que dialoga com o Te. Como já dito anteriormente, os campos da ciência política, da gestão pública, da administração e do direito representam muito bem a questão das estruturas impessoais e objetivas trabalhadas pelo Te. No direito, o pensamento de Kelsen, central no positivismo jurídico, é um dos que melhor encarnam essa associação. Sua teoria pura do direito explica como a hierarquia de normas, encabeçada pela Constituição, regula o funcionamento do ordenamento jurídico e dita sob quais princípios impessoais os outros princípios impessoais devem ser colocados e mantidos. Em um escopo mais amplo, a justiça, como tratada na Ética aristotélica, também é bastante Te. A filosofia de Aristóteles, em comparação com a de outros filósofos de seu tempo, era mais empírica, verificacionista e “estruturante”, mas também preocupada com a justiça. Inclusive, o conceito de justiça apresentado anteriormente no texto deriva do pensamento de Aristóteles, que era Te-dominante. No campo da política e das relações internacionais, as correntes de pensamento conhecidas como “realistas” são as que melhor têm relação com a faceta pragmática e metódica do Pensamento Extrovertido. Os realismos estruturais “defensivo” e ofensivo de Kenneth Waltz e John Mearsheimer veem o Estado como um ator racional e constrangido pela estrutura de poder do Sistema Internacional, limitado a garantir sua sobrevivência e seu poder militar em um ambiente anárquico. Na biologia, o trabalho fundamental de Charles Darwin, também altamente empírico e sistemático, é um bom exemplo de teorização Te do mundo. Inclusive, esse é o exemplo citado por Jung em Os Tipos Psicológicos como exemplo de Pensamento Extrovertido.
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