Os apelidos
dos tipos - Parte II

Por que damos nomes aos tipos? Por que 3 nomes e por que esses?

Os Segundos apelidos: arquétipos, animais e o mundo imagético

O segundo apelido de cada tipo teve a intenção de trazer uma ideia mais imagética, às vezes arquetípica, ou de outra forma vinculada a papeis culturais no imaginário social. Confira ao que cada nome referencia e como essa associação se relaciona às funções. Confira a parte I, com profissões e funções sociais, aqui.

– ExxPs –

ESTP – O Sol: o Sol é a fonte primária de fogo, vivaz e vital no imagético arquetípico. Ele representa energia e vida. O ESTP como Sol é colocado para representar a faceta de energia, carisma e força de vontade características do tipo A energia representada pelo fogo não tem rodeios (Se-dominante). Dá vida, mas também queima o que precisar queimar. O processo de renascimento causado pelo fogo também vem da energia e, de certa forma, da vontade de poder que poria as coisas em movimento. Metaforicamente, também, o Sol é frequentemente representado como polo masculino, mas é interessante notar que algumas culturas o colocam como feminino. Embora haja representantes de todos os gêneros no tipo, simbolicamente Jung atrelou certas dicotomias ao masculino (arquetípico) e outras ao feminino. O campo da Extroversão, da Sensação e do Pensamento foram associados ao masculino. Sendo o ESTP definido pela Sensação Extrovertida dominante e pelo Pensamento Introvertido auxiliar, metaforicamente um dos tipos com maior energia masculina foi nomeado “O Sol”. Em nota final, isso não significa que mulheres ESTP sejam mais masculinas. Muitas, pelo contrário, se aproximam da hiper-feminilidade, e a exercem de uma forma bastante enérgica e expansiva. Tipologia não define expressão de gênero.

ESFP – O Amante: este apelido deve ser lido aqui como uma referência ao arquétipo junguiano d’O Amante, um dos 12 arquétipos principais e 4 arquétipos fundamentais da masculinidade para Jung. O arquétipo do Amante não diz respeito meramente a romantismo, muito menos a sexualidade, e está presente em todas pessoas, numas com maior e noutras com menor grau. O arquétipo d’O Amante diz sobre a percepção e a exploração de beleza da vida pelas sensações, e do compartilhamento disso com as outras pessoas. Acessar O Amante de Jung diz respeito a acessar uma vontade visceral de viver e de fruir da vida. Não há um apego tão grande a sensações específicas como seria no caso da Sensação Introvertida, e por isso o Amante como metáfora do ESFP dialoga com sua vontade sempre constante de mais e mais, sendo cada experiência concreta fruída por si só, sem valor para além disso (Se-dominante). O Amante tem um carisma pessoal que parte de si e para si, pelo que ele mesmo quer e vai atrás, e com isso consegue compartilhar com outros a vontade de viver (Se+Fi).

ENTP – O Tolo: foi dado o nome de “O Tolo” para o ENTP como uma referência variada a outras palavras que jogam com a ideia construída aqui para o ENTP: o “Jester”, arquétipo junguiano, o “Trickster”, também presente em Jung, O Louco (“The Fool”, do Tarot) e o bobo-da-corte no imaginário social. Esse amálgama meio confuso de vários personagens e arquétipos da sociedade, nem todos 100% específicos das funções do ENTP, criam O Tolo, cuja função é engajar com seu público a partir da torção de ideias e do escárnio dos costumes, desgarrando-se da matéria para melhor interpretá-lo (e brincar com ele). O Tolo é espontâneo e inquieto; explora ideias e possibilidades sem consequência (Ne), ainda mais quando elas representam um uso criativo e subversor de conceitos comumente aceitos (Ti-auxiliar e Fe-terciário). O Tolo tem sua jornada solitária pelos seus interesses, mas também dialoga intensamente com um público entretido, do qual faz graça, caçoa e distorce os valores (Fe-terciário). O espetáculo da subversão e das ideias imateriais é sempre seu maior cúmplice.

ENFP – O Camaleão: este apelido deve ser lido não pela expressão corriqueira “camaleão social”, algo muito pouco relacionado às funções do ENFP, e sim pela natureza sempre mutável e frequentemente excêntrica do tipo. Os ENFP raramente são camaleões sociais porque sua mudança não diz respeito ao grupo em que se encontram ou ao que a situação pede. Muito pelo contrário, num determinado momento ou época, eles costumam se apegar ferrenhamente a uma imagem. No entanto, essa imagem tem natureza cambiante, porque é mais importante explorar novas cores e propostas de si (Ne-dominante e Fi-auxiliar) que se apegar a certos gostos. Enquanto há pouca ou nenhuma influência social, O Camaleão aparece por sua excentricidade e multicor, e isso é o mais representativo da Ne-dominante como errática, mutável e algo caótica.

– ExxJs –

ESFJ – A Princesa: a Princesa é símbolo de beleza, graça, status, amor e companheirismo. Embora não herde as obrigações executivas de um rei ou rainha, pode, se quiser, se dedicar à justiça do reino, o bem-estar de seus súditos, geralmente com carinho, compaixão e cuidado, mas também com sagacidade, “senescalia” e charme político (Fe-dominante). Ela pode se ver como parte do povo ou distante dele, mas, de alguma forma, encontra um meio de brilhar e interagir entre os seus. Se não se engajar em justiça, pode também aproveitar os bailes, indumentárias e várias companhias da Corte (Fe-dominante). Ela marca sua presença, mas também se harmoniza com os grupos ao seu redor, podendo ser uma peça fundamental de diálogo entre os membros, ao mesmo tempo em que reclama sua herança com honra e alegria (Si-auxiliar). Há algo de simpático na princesa, de gentil, carismático e visível. Porque a Princesa não se invisibiliza. Ela está atenta tanto ao refinamento das melhores ofertas da Corte (Si-auxiliar) quanto às principais novidades que a interessam a cada dia a mudar um pouco de sua vida (Ne-terciária). Por todos esses motivos, “A Princesa” foi escolhida como metáfora arquetípicas para o ESFJ.

ENFJ – O Leão: historicamente, o Leão é símbolo de nobreza de coração, coragem e força social. Ele é usado na heráldica como demonstração da nobreza e da força de um grupo, enquanto o Leão como animal, no meio natural, é visto como um líder carismático e imponente. A mitologia e a ficção criadas a partir disso deram ao Leão um caráter altamente nobre, que entende empatiza com as necessidades e valores de seu povo. Não por menos, há pelo menos dois leões na ficção que carregam o tipo ENFJ: Mufasa, pai de Simba, de “O Rei Leão” e Aslan, de “As Crônicas de Nárnia”, que geralmente funciona mais como ENFJ. O Leão arquetípico, portanto  é menos um discurso genérico de empreendedorismo e força de vontade e mais um símbolo de status, carisma e sociabilidade, no qual a fisicalidade é secundária e o que importam são os valores e a capacidade de articular um grupo por meio do carisma e da realeza (Fe-dominante), em torno de grandes ideais que unifiquem o grupo (Ni-auxiliar). A fiscalidade, mesmo secundária, é existente e faz parte da presença corporal do Leão como líder concreto e carismático (Se-terciária).

ESTJ – O Rei: seguindo os outros temas reais dos tipos com Julgamento Extrovertido dominante (ExxJ), o ESTJ é colocado como “O Rei”, em homenagem ao arquétipo junguiano do Governante/Rei. A autoridade do Rei, no arquétipo, não precisa ser imposta pela força, porque é emanada e traz para o reino ordem e prosperidade. O arquétipo, presente em todos nós, tem potencial de justiça, prosperidade e abundância para o reino e os súditos, sejam eles quais forem, e não precisa de qualquer autoritarismo. O arquétipo d’O Rei tem respeito pelo seu valor, pela sua imparcialidade e pela sua sabedoria orientada ao bem-estar material do reino, funcionando como metáfora para Te-dominante + Si-auxiliar. Com a abundância trazida pelo arquétipo do Rei, o reino pode alcançar uma estabilidade (Si) protegida, encabeçada e liderada pela capacidade do Rei.

ENTJ – A Atena: associada à Pólis (em especial Atenas), à estratégia de guerra, à sabedoria e à civilização, Atena é uma deusa que representa com maestria o Pensamento Extrovertido (Te) dominante. Os conceitos relacionados à deusa dizem respeito à civilização, à estratégia, à sabedoria e à justiça, todos com um substrato extremamente impessoal. Atena rege a guerra sob uma perspectiva racionalizada, mesmo apoiando apenas guerras justas, e é dedicada ao pensamento estratégico, ou seja, um plano geral para objetivos de longo-prazo, e o uso de uma sabedoria prática e objetiva para seu desenvolvimento. Como metáfora, o funcionamento do ENTJ parte de visões específicas (Ni) em nome da função dominante de criação e consolidação de estruturas (Te) impessoais e, portanto, justas. Atena atribui uma função objetiva para as artes e para a guerra, subordinando o campo da percepção de símbolos e fatos (Ni e Se) ao do julgamento (Te).

– IxxJs –

ISTJ – O Samurai: cada movimento de um Samurai é feito para uma perfeição quase divina. Para além de mera precisão ou eficiência, cada movimento dele traz algo de ritualismo, como se o corte da espada carregasse consigo o divino. Por esse motivo, grande parte do ethos do Samurai é uma metáfora para a Si-dominante. Além disso, O Samurai, como guerreiro e soldado, serve, antes de qualquer autoridade, um código de honra em que cada ação tem um propósito e uma ritualística fundamentais. O Samurai protege quem deve proteger e combina a proeza em batalha com um grande conhecimento da verdade, da ritualística e de outras áreas que lhe fazem, mais que um guerreiro, um intelectual. Em todas essas áreas, há sempre algo de honra, lealdade, compromisso e ritualística. O senso de verdade, de conhecimento prático, e um código de honra carregado pessoalmente funcionam como excelentes metáforas para Si-dominante e Te-auxiliar. Não por acaso, na ficção, um dos samurais mais conhecidos pelo Ocidente, Samurai Jack, é um ISTJ.

ISFJ – A Bailarina: também na Bailarina os movimentos à perfeição são ritualizados em nome de uma beleza divina. Existe uma devoção a tudo o que é gracioso, singelo e belo pela perfeição. A beleza de cada movimento esconde uma complexidade muito significativa. O trabalho da Bailarina requer uma dedicação ao movimento sacralizado que transporta consigo a metáfora da Si-dominante. Como a busca do balé evoluiu para retratar majoritariamente o feminino, e girou ao redor de ideias de graça, sensibilidade e movimentos gentis ao olhar do expectador, existe um substrato mais associado ao Fe-auxiliar em sua busca de harmonização com o grupo (ou com o público, também, no caso do balé). A Bailarina, por mais que esteja em diálogo constante com as expectativas e emoções do público, entrega-se primeiro à própria devoção dos movimentos.

INTJ – O Profeta: a Intuição Introvertida é descrita por Jung como a função dos artistas e profetas loucos. Isso não se dá por nenhum “poder” intrínseco de previsão, embora muitos acabem acreditando nisso, e sim por uma mera inclinação a navegar o inconsciente coletivo e extrair daí padrões que são lidos de forma profética. Até por isso, a ideia social do Profeta casa, de fato, com uma metáfora para Ni-dominante, manifestada aqui no apelido do tipo INTJ. O Profeta brada suas profecias, haja quem ouça ou não, esteja ele contra o ouvinte ou não (Fi-terciário), porque o que mais importa é a canalização da visão que lhe foi dada. Para o Profeta, o conceito e a visão são, de longe, o ponto mais importante. Nada faz sentido se não houver o anúncio dos sinais e símbolos que ele percebe (Ni-dominante). A busca de influenciar o mundo à sua volta, secundária, surge a despeito das pessoas presentes ou mesmo de sua capacidade de ouvir. Mesmo que haja pragmatismo no profeta (Te-auxiliar), ele não passa tanto por um diálogo direto, contanto que sejam supridas as necessidades de sua subjetividade (Ni+Fi).

INFJ – O Sábio: o apelido aqui deve ser lido como uma referência ao arquétipo junguiano d’O Sábio. Presente em todas as pessoas (em maior ou menor grau), o Sábio trabalha em nome do conhecimento e da sabedoria internos. Seu objetivo principal é a contemplação da verdade e o encontro com a verdade. Metaforicamente, esse encontro com a verdade que vem de dentro pode ser lido como as reflexões semiconscientes simbólicas da Ni-dominante, por vezes apoiadas por uma independência de pensamento e rigor conceituais importantes do Ti-terciário. O Sábio contempla a realidade e encontra transformação interna no ato do conhecimento pelo conhecimento, puramente; é dali que ele bebe sua sabedoria interna. No entanto, o Sábio também tem um papel social. O arquétipo costuma manifestar-se guiando outras pessoas e transmitindo essas reflexões pessoais para elas. As reflexões do Sábio começam e terminam nele, mas ele também as usa como ponto de engajamento com o mundo externo e com as jornadas das outras pessoas (Fe-auxiliar).

– IxxPs –

ISFP – O Andarilho: o Andarilho experimenta o mundo ao seguir seu próprio caminho. Conhecer-se é conhecer os mundos pelos quais passa e experimentá-los. O Andarilho sai em uma jornada em busca de si, mas não ignora o mundo à sua volta no processo. Pelo contrário, ele extrai novas experiências, danças e sabores de onde quer que passe, para construir sua própria perspectiva sobre si e seu conhecimento interior. Em última instância, o andarilho busca criar uma visão de mundo pessoal, talvez poética, e agir conforme seus interesses e valores (Fi-dominante), experimentando o mundo que o envolve e estimula no processo, aproveitando as oportunidades de cada cidade e cada acontecimento (Se-auxiliar), e aproveitando para refletir sobre os padrões e diferenças que vê, simplesmente porque é divertido (Ni-terciária). O Andarilho é uma companhia aproveitada em cada vilarejo que conhece. Pode falar de si, de suas experiências e crenças, mas segue seu caminho, para onde o vento o levar.

INFP – O Estrangeiro: um dos principais motivos para esta metáfora é a obra “O Estrangeiro”, de Albert Camus. Além de o próprio autor ter sido INFP, o protagonista do romance, Meursault, também é Fi-dominante. Também por esse motivo, é importante ressaltar que nenhum tipo está ligado a uma filosofia específica e, portanto, o nome é uma metáfora. Tanto existem INFP absurdistas quanto aqueles que abraçam outros tipos de filosofia, e o fato de alguém ser absurdista, mesmo que essa filosofia represente o funcionamento do INFP, não define tipo nenhum. O Estrangeiro se vê como um Outro. Tem suas experiências subjetivas, seus valores próprios e observa o mundo que o acolhe como se fossem Outros. Frente a um mundo sem sentido intrínseco (Ne-auxiliar), o Estrangeiro se refugia em observar e julgar o mundo do Outro em sua própria subjetividade. A valorização de suas experiências passadas como melhores (Si-terciária e simplista) não é suficiente para dar sentido ao mundo, mesmo quando importante, restando-lhe abraçar o absurdo do imprevisível e decidir por si mesmo como viver, contra tudo e contra todos. O Estrangeiro só começa a entender o mundo quando, primeiro, entende a si mesmo.

ISTP – O Lobo Solitário: muitos são os tipos que podem se identificar com o arquétipo mais geral d’O Lobo Solitário. O ISTP ganhou esse apelido não só pela perspectiva própria de um ISTP se vendo assim, mas também porque, objetivamente, o ISTP é o tipo mais autossuficiente, exatamente porque ele rejeita e reprime sua função inferior (Fe), que facilitaria o diálogo, o convívio e a criação de relações. Mesmo quando em grupo, o Lobo Solitário na ficção evita engajamentos, já que isso pode ofuscar sua perspectiva independente das ações e decisões (Ti-dominante e Fe-inferior). Ele costuma ser criado como um personagem habilidoso e autossuficiente, que seguia um entendimento próprio antes do grupo. É comum que Lobos Solitários sejam criados com certa confiança corporal e com um entendimento específico de como o mundo funciona, além de preferirem uma fala mais curta e minimalista (Se-auxiliar e Ni-terciária). Claro, tudo isso geralmente é usado para ocultar ou denotar (a depender da obra) seus graves problemas de convivência, entendimento do outro e senso de cooperação, não devendo ser fetichizado apenas por uma perspectiva simplista de sua habilidade técnica.

INTP – O Alquimista: o papel histórico do Alquimista foi de avançar a ciência ao aliar um método sistemático, mas não científico, com um entendimento esotérico e místico e o teste de possibilidades a partir disso. Existe rigor no teste de hipóteses do Alquimista, mas nada que fira sua capacidade especulativa e de tentativa de várias conexões pouco científicas em nome de entender as leis da natureza (Ne-auxiliar e Si-terciária) e, a partir disso, fazer ouro. Poder-se-ia argumentar que, para muitos alquimistas, foi muito menos importante alcançar a pedra filosofal para fazer ouro, e muito mais importante criar teorias para compreender as ligações entre elementos da natureza (Ti-dominante). Nesse caminho também segue um dos alquimistas mais famosos da ficção: Van Hohenheim, de “Fullmetal Alchemist” e “Fullmetal Alchemist: Brotherhood”, que é INTP.