Introdução
Em tipologia junguiana, o reconhecimento de padrões na personalidade vai do geral ao específico. Isso significa que, antes de serem os tipos específicos, eles também são junções de padrões maiores observados e teorizados dentro dos conceitos de Carl Jung. Assim, identifica-se o padrão “introvertido” ao observar-se e estudar a atitude introvertida e como ela se manifesta nas pessoas, para ser possível falar de um “tipo introvertido”. Quando se descreve um tipo (por exemplo, o ISTP – TiSeNiFe) função a função, o que se faz é identificar grandes padrões cognitivos, cruzá-los e observar como eles funcionam em conjunto, depois comparar isso com a prática. O tipo é definido por várias interações cruzadas. No exemplo, o ISTP é um tipo com Pensamento dominante, assim como o INTP, o ENTJ e o ESTJ. Também é um tipo introvertido, como o INTP, o INFP, o ISFJ, o ISTJ, o ISFP, o INFJ e o INTJ. É um tipo usuário de Se, como o ESTP, o ESFP, o ENTJ, o ENFJ, o ISFP, o INTJ e o INFJ, e é um usuário de Se forte (dominante ou auxiliar), como o ESTP, o ESFP e o ISFP. Desses vários padrões identificáveis, além de um tipo surgir e fazer sentido ao ser comparado com outros, é possível e muito comum agrupar certos tipos em grupos a partir de suas características em comum. Alguns agrupamentos costumam fazer mais sentido por terem características mais observáveis. É o caso dos agrupamentos que serão estudados neste site.
Os agrupamentos mais relevantes sempre levam em consideração as funções e o original Junguiano, e não as letras. Vários agrupamentos podem ser feitos a partir disso, a depender do que a análise de padrões quer ressaltar e quais características são observadas no momento. Por esse mesmo motivo, é importante ter em mente que, como um mesmo tipo faz parte de vários agrupamentos, todos eles são importantes em algum momento para algum tipo de análise. Também por isso, qualquer tipo de tentativa de reduzir os vários agrupamentos em apenas um, que relacionaria “famílias” muito próximas entre si, falha em ver que os tipos têm recortes e padrões diferentes. Além disso, tentar fechar em apenas um agrupamento costuma causar bairrismos desnecessários e identificações distorcidas, além de sentimentos de superioridade falsos e anti-intelectuais.
O agrupamento mais conhecido dos tipos psicológicos talvez seja o pior de todos já feito. Trata-se dos “Temperamentos” de Keirsey (que, ainda que ele tenha tentado, nada têm a ver com os Temperamentos Hipocráticos originais. Qualquer tentativa de associar os tipos junguianos aos temperamentos de Hipócrates (melancólico, fleumático, sanguíneo e colérico) incorre em graves distorções, o que é material para textos futuros). Keirsey identificou esses “temperamentos” ou “famílias”, em última instância, a partir de uma leitura assimétrica e pretensamente comportamental das letras desenvolvidas por Myers e Briggs, não das funções, e se dedicava mais a uma utilidade organizacional/empresarial que um compromisso com o desenvolvimento psicológico mais profundo. Os temperamentos de Keirsey dividem os 16 tipos entre Sensoriais e Intuitivos. Os primeiros possuem uma divisão vinculada às funções: SPs (originalmente usuários de Sensação Extrovertida forte) e SJs (originalmente usuários de Sensação Introvertida Forte). Os segundos não são divididos pelas funções cognitivas em si e são feitos de forma diferente dos primeiros. Keirsey dividiu os Intuitivos em NFs e NTs. Esses agrupamentos colocam juntos tipos sem funções em comum, ainda que com estruturas de stack semelhantes, mas, por se basear em semelhanças superficiais das letras/dicotomias, peca em ter contato com as densidades arquetípicas da obra de Jung. Isso não significa que uma divisão entre NTs, NFs, STs e SFs não tenha algum valor, mas ele é marginal e não é coberto pelos Temperamentos de Keirsey, pela assimetria grotesca.
Dessa forma, aqui serão priorizados três tipos diferentes de agrupamentos, com ideias diferentes entre si, que respeitam algo da divisão em funções ou tipos de funções. A primeira, e a de preferência pessoal do autor, está relacionada com a própria ordem de escrita de Jung em Os Tipos Psicológicos. Como ele deu prioridade a divisão entre as atitudes extrovertida e introvertida, para depois entrar nas funções, agrupou-as em 4 duplas que dão origem aos 4 grupos apresentados: tipos irracionais introvertidos (detentores de Percepção Introvertida — Pi — dominante: IxxJs), tipos racionais introvertidos (detentores de Julgamento Introvertido — Ji — dominante: IxxPs), tipos irracionais extrovertidos (detentores de Percepção Extrovertida — Pe — dominante: ExxPs) e tipos racionais extrovertidos (detentores de Julgamento Extrovertido — Je — dominante: ExxJs). Essas divisões dão visibilidade às diferentes tendências de relação dos tipos com o objeto e com o sujeito. Cada função racional ou irracional, introvertida ou extrovertida, diz respeito a uma postura específica com relação aos objetos do mundo “fora” do indivíduo e aqueles construídos no mundo “dentro” dele. Essas posturas são relativamente fáceis de serem observadas e contribuem para um entendimento mais amplo das funções, até mesmo de quando elas são mais baixas no tipo.
O segundo agrupamento reúne os tipos por função julgadora forte em comum. As funções de julgamento, o Pensamento e o Sentimento (em suas versões introvertida e extrovertida), dizem respeito à tomada de decisões e ao processo que Jung descreveu como racional. Traduzindo-se para as letras, a função de julgamento aparece nas duas últimas: xxFJ usam Sentimento Extrovertido (Fe) forte, xxTJ usam Pensamento Extrovertido (Te) forte, xxTP usam Pensamento Introvertido (Ti) forte e xxFP usam Sentimento Introvertido (Fi) forte. Dividir pelas funções de julgamento costuma ser de bastante fácil entendimento porque essas funções são mais facilmente percebidas, mais verbais e mais influenciadoras do comportamento. Em grande medida, essas características de grupo correspondem aos principais impactos da própria função no indivíduo.
Da mesma forma, o terceiro e último agrupamento observado também separa os tipos por uma função, e têm nela seus principais padrões explicados. No caso das funções perceptivas, as letras que lhes correspondem são a segunda e a última. As funções irracionais, dedicando-se à absorção de informações de forma passiva e sua exploração pouco definida, ao sabor do que emerge na psique, são via de regra mais difíceis de serem vistas, e seus padrões são mais abstratos de serem notados. De qualquer forma, eles existem e devem ser mencionados. No caso dessas funções irracionais, xSxP usam Sensação Extrovertida (Se) forte, xNxP usam Intuição Extrovertida (Ne) forte, xSxJ usam Sensação Introvertida (Si) forte e xNxJ usam Intuição Introvertida (Ni) forte.
Conheça os outros conteúdos relacionados