Caracterizados por funções julgadoras extrovertidas dominante, o grupo das personalidades provedoras compreende os tipos ENTJ, ENFJ, ESFJ e ESTJ.
Os EJ, também chamados de racionais extrovertidos ou julgadores extrovertidos, caracterizam-se, em sua função dominante, pelo julgamento extrovertido (Je). Essa função tem uma grande capacidade de comunicação, entendimento e utilitarismo, e são conhecidos por operar em conjunto ou aproveitando grupos e entendimentos gerais sobre os princípios de funcionamento das coisas. A maior facilidade dos EJ está em entender princípios de funcionamento do mundo, adotá-los e trabalhar em cima deles, tanto em seu nome como em nome do próprio objeto, para que ele cresça e se desenvolva. O maior campo de distinção dos EJ está na capacidade preservar o objeto e, a partir disso, fazer-se como indivíduo em diálogo profícuo com o mundo à sua volta e com os princípios que o definem. Como função racional, o julgamento extrovertido se baseia princípios claros. Como é extrovertido, esses princípios têm tendência universalizante, mas também dialogam com as estruturas do objeto em que o indivíduo se encontra. Isso significa que, idealmente, o EJ consegue entender e definir para si princípios para tomada de decisão que têm respaldo “universal” no objeto – em grupos, na sociedade, em fontes de conhecimento, ou mesmo em fontes de informação objetiva. O EJ compreende esses princípios e dialoga com eles de forma altamente criativa e intencionada em criar um impacto real nessas estruturas, geralmente com perspectivas de cooperação com elas (o que não significa, no entanto, que essa “cooperação” seja sempre bem-intencionada ou universalmente agradável. EJ dominados pelo egoísmo, por exemplo, podem apenas saber dialogar e usar esses princípios universais, sem cooperar de fato com o objeto).
Seja como for, os EJ podem ou não ser altamente sociáveis, porque nem sempre o objeto de interesse e cooperação deles é a sociedade em si, embora eles dialoguem, sim, com produtos sociais. Isso significa que, independentemente do seu grau de sociabilidade ou vontade de interagir com pessoas, os produtos mais significativos dos racionais extrovertidos majoritariamente passam por diálogos com princípios consensuais que tenham a capacidade de ser ouvidos por todos. Exatamente por isso eles podem ser chamados de comunicadores ou oradores, por sua facilidade maior em verbalizar e articular conceitos compreensíveis pela maioria, ou por seus grupos de interesse, ou pelo consenso científico. Existe uma tendência à facilidade, portanto, de que os EJ possam se envolver e canalizar esse envolvimento com consensos para seus interesses ou para os interesses alheios e sociais. Isso é garantido por uma objetividade que quer construir num mundo e influenciá-lo. Em última instância, o EJ se sente parte desse mundo, e é por isso que costuma interagir nele com facilidade. O mundo é uma extensão dele, para ser usado, modificado e melhorado. Em retorno, o mundo também cobra sua influência direta no indivíduo, criando a relação extrovertida ditada pela função dominante. No caso do julgamento extrovertido do EJ, influenciar o objeto significa aceitar de antemão como ele funciona. O mundo tem suas regras e compreendê-las faz parte de qualquer mudança.
Entretanto, é errôneo perceber os EJ como meramente relacionados às normas ou consensos da sociedade, inclusive porque ninguém quer se ver ou ser visto assim. As duas chaves para se entender isso estão uma fora e outra dentro da tipologia. Fora da tipologia está o fato de que cada pessoa tem sua identidade e a enxerga como tal, e todas as pessoas ancoram essa identidade em algo. Muitas vezes, são seus gostos e memórias pessoais, ou as diferenças de forma de pensar e comportamento que se estudam na tipologia de personalidade. Por esse motivo, à primeira vista, nem todos querem ler um texto sobre florescer no objeto e se identificar a partir do momento que até a própria sociedade em que vivem encoraja um pensamento individualista. Falso, toma-se nota. Assim, essa chave está fora da tipologia porque a relação com formas de pensamento consensuais não impede ninguém de ser divertido ou chato, interessante, politizado ou não. A tipologia estuda um passo anterior: não como as pessoas comportam-se, mas como é aproximadamente o processo de pensamento e as preferências delas nisso. No entanto, mesmo assim, os EJ têm uma relação possivelmente conflituosa com a identidade em sua relação com o objeto e o sujeito, que será estudada depois. A segunda chave, encontrada dentro da tipologia, está no próprio fato de a função de Julgamento Extrovertido ser a dominante. Uma relação tão íntima com o objeto eleva a função a seu nível máximo de consciência e criatividade. Assim, os EJ possuem uma visão clara, produtiva e construtiva do objeto que lhes permite ir mais além do mero seguimento de padrões e normas, mas sua influência deliberada e criativa, como dito. Até mesmo aqueles EJ mais alinhados com o seguimento dos consensos do mundo externo conseguem fazê-lo de forma mais construtiva.
Claro, isso tem consequências na forma como o EJ lida com o mundo interno, inclusive em termos de individualidade. Como dito anteriormente, há muito poucas pessoas que se consideram sem individualidade, sem valores pessoais, ou sem sua existência como entidades únicas. No entanto, o senso de identidade dos EJ é poroso e o fato de muitos não perceberem é um importante fator de confusão tipológica para eles, exatamente porque o contato com uma estrutura interna é baixo. Há porosidade do senso de individualismo do EJ, porque ele está relacionado com as estruturas do objeto. Se elas mudam, a individualidade do EJ também corre o risco de mudar. Se as circunstâncias de um grupo, um emprego, uma demanda profissional, um achado científico, um amigo ou um orientador mudam, por exemplo, é possível que o EJ remodele suas expectativas e sua própria identidade em nome dessa mudança num objeto. O EJ faz isso porque o mundo externo é uma extensão de si. Em seu máximo potencial, ele se sente infinito no mundo e parte dele. Mas fazer parte do mundo é entregar-se às circunstâncias de um mundo impermanente. Em última instância, o senso de si do EJ é baixo a ponto de ele nem sequer perceber que é baixo. Outros EJ, principalmente de Fe-dominante, costumam identificar-se com a ideia de forjar “diferentes personalidades” para cada pessoa ou grupo social. Nem todos se sentem assim, claro, mas esta é uma metáfora importante do funcionamento do senso de individualidade e identidade que permeia o EJ. Ele depende das estruturas e consensos que se formam externos a ele, ao mesmo tempo em que se tenta influenciar essa impermanência.
A maioria dos EJ busca alguma permanência, mas ela não é encontrada facilmente em sua função dominante. A maior fonte de consistência do EJ emana de sua função auxiliar, a percepção introvertida (Pi). Além de ancorar a consistência, ela ainda auxilia na percepção de tempo e de impacto das ações e julgamentos criados pela Je dominante. Isolada, a Je tomaria julgamentos e conclusões sobre os acontecimentos imediatos e possivelmente engajaria em tentativas pífias de controle o objeto sem nenhuma motivação subjetiva que não o mero controle. Por ser orientada à percepção do caráter subjetivo, ou seja, das perspectivas e narrativas que o próprio sujeito faz do mundo à sua volta, nasce ali o que pode ser visto como o senso de propósito que um EJ nutre. Por ser auxiliar, esse senso de propósito não tem o refinamento que alcança aqueles de Pi dominante (IJ). O senso de propósito do EJ tem como último objetivo o diálogo e o impacto no objeto. No entanto, são poucos os EJ que partem de uma perspectiva puramente utilitária para uma estratégia puramente utilitária com fins puramente utilitários. Esses são mais comuns na ficção que na vida real, o que costuma criar o problema de muitos EJ não se identificarem com os exemplos de seus tipos por não serem tão utilitários A percepção introvertida bem utilizada dá ao EJ uma narrativa que seguir, uma intenção que se ancora em uma visão, uma ideia ou acontecimentos marcantes que dá direção para a forma como o indivíduo interage com os consensos e os princípios julgadores da função dominante.
No plano micro, a função auxiliar dá uma noção mais detalhada de causa e efeito, ou seja, dá perspectiva ao EJ. Por passar a receber as informações e perceber o mundo de forma subjetiva, o EJ ganha mais facilidade de distinguir e escolher as ações que quer tomar em nome do impacto temporal que elas têm, e ganha mais capacidade de entender que seus julgamentos sobre o objeto têm consequências, para decidir, então, com quais eles querem arcar. Isso costuma ampliar também o senso de responsabilidade do EJ, não só o de propósito (embora os dois comuniquem-se). Isso tudo, claro, é usado para catapultar a forma como o EJ se movimenta no mundo externo, e inclusive dá mais aporte reflexivo para os julgamentos que faz a função dominante. Eles passam a ter um apoio interno que garante solidez e diminui a circunstancialidade dos julgamentos. E isso fortalece a capacidade de estratégias de longo prazo, consistência de ação, senso de si etc.
Por outro lado, a percepção extrovertida (Pe) terciária reforça o caráter extrovertido e externo da orientação do EJ, aumentando sua flexibilidade e compreensão da realidade necessárias para seus objetivos e interesses. A função terciária convida o racional extrovertido a entender trabalhar o máximo possível com o mundo. É com ela que os EJ podem alcançar o ápice de uma criatividade que interage intensamente com o objeto. Claro, quanto mais a terciária é usada, mais o EJ corre o risco de perder-se no objeto e flexibilizar ainda mais a própria individualidade. Ou seja, por um lado, ele tem uma melhor relação com o novo, com o que aparece no momento e com a fluidez do objeto. Um EJ entrando em contato com a terciária pode começar a perceber o mundo de uma forma mais aberta e frutífera. É bem comum, quanto mais presente a função terciária, que os EJ cultivem uma autoimagem altamente aberta, flexível e divertida. Não que essa autoimagem não seja verdadeira, mas se nota que ela costuma ser mais fruto da função terciária que da dominante, já que a terciária, irracional extrovertida, abre-se sem filtro para a absorção do mundo externo. Em última instância, a Pe aumenta do EJ a capacidade de interagir com o mundo. Como essa interação se guia principalmente pela construção (e, eventualmente, o controle) do objeto, ela deixa de ser uma mera exploração, como seria na Pe-dominante, e usa o novo, a mudança e as oportunidades para refinar suas formas de interação.
Mas basear sua individualidade em construir e ser construído por estruturas externas requer renegar as internas, os processos de decisão que partem única e independentemente do indivíduo. Esse seria o papel do julgamento introvertido (Ji), que é inferior nos EJ. Métodos de decisão externos têm prioridade na escolha de ações e até na formação da psique. A racionalidade subjetiva, aquela que independente e até é contrária ao objeto, é minimizada por sua falta de impacto construtivo no mundo real. Se não funciona, se não ressoa no mundo real (ou, para alguns EJ, se não pode ser compartilhado ou comunicado), a razão perde sentido. Veja-se, com isso, que é o abandono de uma razão em nome de outra. O processo racional de julgamento introvertido, reprimido como função inferior dos EJ, faz com que a opinião alheia seja mais impactante para eles que para qualquer outro grupo, mas isso só até a página dois: para estudar os EJ que facilmente renegam a opinião alheia, é primeiro preciso estudar aqueles que não o fazem. Como o julgamento extrovertido se orienta por consensos externos, a opinião, o julgamento ou o raciocínio cultivado externo ao EJ, por outras pessoas ou outras fontes de conhecimento, influencia diretamente em seu processo de raciocínio, mais que nos outros grupos. Em verdade, o que o EJ necessita não é necessariamente a opinião alheia, como foi visto, mas sim um aporte externo. Esse aporte em muitas vezes é uma opinião, mas também pode ser um autor acadêmico, uma estatística ou outras fontes que transformem o mundo externo com princípios racionais (na racionalidade junguiana).
Agora, é importante notar como nos últimos anos o papel da opinião alheia vem sendo demonizado e, com isso, muitas pessoas, de forma mais ou menos forçada, sentem necessidade de mostrar que não dependem desse aporte externo. Em muitos casos, força-se uma “autoconfiança” que disfarça uma arrogância desnecessária e fecha o indivíduo ao aporte externo. Esse fenômeno acontece em muitos EJ, principalmente Fe-dominantes (ExFJ), inclusive porque eles adotaram esse comportamento de uma tendência externa. Assim, muitos EJ rejeitam reconhecer que não só são permeáveis ao aporte externo como inclusive se beneficiam disso. Quando isso acontece, o fazem de uma forma mais forçada que os IP e EP, também conhecidos pelo mesmo movimento. Os IP, com sua tendência de querer aniquilar o objeto para preservar a independência, geralmente conduzem o “não ligar para opiniões alheias” de forma mais natural, mas não sem problemas – isso é tratado no texto dos IP sob outros termos. Os EP costumam sentir muito gosto em verbalizar o fato de não se importarem, porque, além do julgamento introvertido auxiliar, possuem uma função extrovertida dominante que os compele a se projetar no mundo, mostrando e afirmando para tudo e todos que não precisam de aportes externos. No caso dos EJ, esse fenômeno costuma vir de forma mais incoerente porque mostra um vínculo pouco útil com a função inferior. A rejeição ao diálogo é, para os EJ, mais nociva que para qualquer outro tipo, porque eles florescem no diálogo. E fazem o mundo florescer com eles.
O grupo dos EJ é, provavelmente, o que mais sofre com a “perda” de tipos que se consideram de outros grupos. Sobre esses, foi comentado em cada um dos outros textos. O principal grupo que costuma se confundir como EJ são os EP. Os EP que tendem a se achar EJ o fazem geralmente porque querem se sentir decisivos, fortes e imponentes, ou responsáveis, visionários e ambiciosos. Esses EP costumam gostar de se ver como fatores de decisão e controle, mas costumam lançar mão de um tipo de controle bem diferente do praticado pelos EJ. Consideram-se dominadores por serem impositivos, corpóreos, coléricos e até mandões, mas isso é muito pouco ressonante com o método preferido dos EJ: de diálogo e construção conjunta. Existem sim EJ autoritários ou até coléricos, mas eles não são a regra, e isso é bastante comum em EP, principalmente ESxP. Os EP que se acham EJ devem perceber que sua forma de lidar com o objeto é mais exploratória, e que sua função de percepção introvertida na verdade é inferior. Ser EP também não impede ninguém de ter ambições para si ou para o mundo. Muitos EP são vistos erroneamente como EJ simplesmente por terem uma visão mais “empreendedora” da vida, mas o empreendimento de si, a busca de aproveitar oportunidades para subir e melhorar sua condição material é tão ou mais comum nos ESxP que nos EJ, que geralmente aliam isso a algum plano de diálogo e construção com o objeto. Por fim, quando um IJ se considera EJ, geralmente quer sentir-se também mais decisivo, empreendedor ou competente, e geralmente tem um contato bom com sua função auxiliar. Mas eles nem de longe têm a capacidade adaptativa dos extrovertidos.
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