Caracterizados por funções julgadoras introvertidas dominante, o grupo das personalidades independentes compreende os tipos INFP, INTP, ISFP e ISTP.
O grupo dos IP é definido, na ordem das funções, pelo julgamento introvertido dominante. Portanto, esses tipos, também chamados de racionais introvertidos, têm como prioridade a independência. O julgamento introvertido (Ji) tem como base definir princípios de tomada de decisão que, idealmente, comecem e terminem no indivíduo. Para ele, o mais importante é que os fatores de julgamento tenham validação própria e autônoma, independentemente de outras formas de tomada de decisão. Ainda que nenhum ser-humano seja uma ilha, os IP são os tipos mais propensos a acreditarem nessa ideia pela necessidade que têm de sentir (e, frequentemente, de agir) como se suas decisões não apenas fossem imaculadas por princípios alheias, mas também contrárias a eles. Por esse motivo, os IP são o grupo com mais tendência a apresentarem comportamentos de rejeição à sociedade. Alguns IP chegam a construir para si uma estética e autoimagem misantrópicas, algo que, mesmo que possa acontecer com qualquer tipo, é bem mais característico do julgamento introvertido. De uma forma ou de outra, o IP luta para cravar sua independência e se firmar nela, para sentir-se um indivíduo diferente do todo, autossuficiente ou singular de alguma forma.
Por serem funções racionais, as funções dominantes dos IP orientam-se por princípios claros, e geralmente as premissas que orientam seu raciocínio podem ser facilmente identificadas. No entanto, existem dois pontos independentes entre si a serem levantados. O primeiro é que uma dessas premissas é sempre subjetiva, dado o caráter subjetivo da função dominante. Todo raciocínio adotado pelo IP, em condições normais, deve necessariamente passar por um crivo pessoal de validade. O segundo é que, como qualquer processo racional junguiano, isso não significa que a lógica usada será boa ou verdadeira. Em outras palavras, qualquer tipo pode ter um raciocínio falho. Um raciocínio falho continua sendo um raciocínio. Desses dois pontos, deriva-se que os principais efeitos do julgamento introvertido são a criação de uma coerência interna feita a partir de princípios claros, com a definição de estruturas internas que o IP se sente compelido a seguir, e o fato de que a compulsão à independência nem sempre está correta. A coerência interna dos IP é tão importante que a maioria dos pensamentos utilitários perde importância, e são raros os casos de IP que priorizam o impacto ou a aceitação no mundo externo, geralmente não apenas desmerecidos como repudiados. Por exemplo, decidir se o indivíduo vai engajar ou não em um debate a depender se pessoas vão acompanhar esse debate é um raciocínio altamente utilitário e majoritariamente incompatível com o principal do julgamento introvertido. A perda do utilitarismo também acarreta dificuldades de aceitação de estruturas funcionais da sociedade, ou consensos produtivos sobre o que mais a favorece. Assim, não apenas os IP raramente têm capacidade de aproveitar lógicas objetivas para seu benefício, como também são os tipos mais propensos a não saber cooperar ou terem dificuldade nesse campo.
A necessidade do julgamento de se manter independência de princípios às vezes fica bem visível. Os IP têm tendência a uma contestação do objeto para que se adeque a seus princípios. Essa contestação pode desembocar em uma rebeldia que busca a aniquilação do objeto, em uma rejeição que pode ser bastante intensa. Diferentemente de outras rebeldias que pretendem algum diálogo ou aproveitamento das estruturas externas, aquela que costuma ocorrer entre os IP se opõe diretamente a elas, representadas pela função inferior de julgamento extrovertido (Je). Em compensação, o grau de independência alcançado pelos IP estruturar bem métodos de conduta que creem ser os ideais para si mesmos e seu próprio caminho, bem como refinar seus princípios em um todo que lhes dá bastante margem de manobra subjetiva. Reforçar a independência significa assegurar que seu funcionamento padrão não requeira sequer um diálogo com o mundo externo para que seja levado. Os princípios do sujeito majoritariamente bastam-se por si sós. Ademais, a capacidade de contestação, ao passo que a de construção seja suprimida, atinge sua capacidade máxima. Toda sociedade requer ao menos um núcleo que lhe questione pela mera necessidade do questionamento, e essa função costuma cair bem aos IP.
O questionamento do objeto e a sensação de individualização, fortalecida por um paradigma social atual que por si só caminha para um individualismo isolacionista, faz com que os IP sejam os tipos mais propensos a um tipo de niilismo que questiona o funcionamento e o significado das coisas sem necessariamente incluir algo no lugar. Embora não sejam maioria, esses IP demonstram um fenômeno ilustrativo do alcance do questionamento gerado pelo Ji-dominante, e é bem comum que os jovens que se identificam como “niilistas” no século XXI, se não tentam colocar algum tipo de significado nas coisas, sejam IP. Em outros casos menos extremos, a tentativa de aniquilação do objeto e a busca de independência levam a uma real capacidade de ruptura que permite ao IP traçar um caminho intelectual, artístico ou de outra forma virtualmente sem influências externas. Isso não garante, claro, uma capacidade inovadora intrínseca, inclusive porque a orientação contínua para o novo é mais próxima da extroversão, principalmente da percepção extrovertida. Além do mais, por mais que os IP tentem ao máximo sentir-se individualizando seus julgamentos e mantendo-se fiéis a seus próprios raciocínios, eles também são fruto de seus contextos sociais e das marcas de sua época. Ainda assim, o traço do caminho individual pode gerar inúmeros frutos por si só. Os IP são os tipos com maior tendência a não precisar se importar com opiniões alheias, uma consequência comum da busca de independência de julgamento. Outra consequência comum é a aparente frieza emocional, da qual muitos IP se orgulham, embora não todos. Tanto Ti como Fi-doms costumam orgulhar-se da capacidade de se impactarem pouco com eventos do mundo externo, ou de não externalizarem emoções, o que daria o aspecto de “frieza”.
O julgamento introvertido também funciona como uma espécie de filtro, em que aceitar a realidade requer passar por esse filtro subjetivo. Isso aumenta a capacidade de o IP seguir com seu caminho individual, mas também o põem em risco constante de modificar a realidade para o que ele quer compreender. Como filtro, o julgamento introvertido pode acabar impedindo a absorção da verdade em nome apenas de uma interpretação dela, que faça sentido ou que seja mais conveniente para suas crenças pessoais. Frequentemente, quando isso acontece, amplia-se a distância entre o IP e seu vínculo com consensos externos alheios. Em vistas de manter sua independência de julgamento, muitos IP preferem inconscientemente cometer esses julgamentos de forma errônea, mas que esteja alinhada com esses princípios, lógicos ou valorativos. É nessas horas em que muitos passam a se considerar certos não a despeito de estarem contra a opinião geral, mas justamente por isso. É comum em muitos IP (e, em menor grau, nos EP) o cultivo da sensação de estar certo por estar contra. Isso pode acontecer nos outros grupos, mas é bem menos frequente.
A primeira abertura ao mundo externo feita pelo IP se dá no campo de sua função auxiliar, a de percepção extrovertida (Pe). Para evitar cair na armadilha da aniquilação da realidade, a melhor ferramenta que o IP tem é trabalhar sua função auxiliar para percebê-la sem filtro. Os objetos externos (concretos ou abstratos, a depender da função auxiliar Se ou Ne) proporcionam uma visão mais objetiva daquilo que é ou pode ser. Claro, por ser uma função auxiliar, os IP não conseguem dela um nível de aproveitamento do objeto tão completo e diversificado como os EP, que a possuem como função dominante. No entanto, a percepção extrovertida auxiliar facilita a flexibilidade e um grau melhor de adaptação entre os IP. Cabe à percepção extrovertida auxiliar o indivíduo que está estruturando seu caminho interno a saber onde navegar no meio externo para fazer isso acontecer. É principalmente pela Pe-aux que o IP consegue extrair as informações mais importantes que usará no seu processo racional dominante. É a percepção extrovertida que consegue fazer os IP parecerem minimamente interessados no mundo externo, quando deixam de lado parte do processo de julgamento e se insere em um processo de percepção que tenta brincar com o mundo externo em nome da função dominante subjetiva.
A mesma vontade de apoiar a função dominante que compele a exploração feita pela Pe-aux é a que a limita, porque a função auxiliar está majoritariamente a serviço do julgamento introvertido. Se algo não encaixa nas estruturas internas do julgamento introvertido, é descartado ou aniquilado com igual desprezo. Até por isso, é relativamente comum que os IP adotem sistemas de crença ou ideologia mais exclusivistas ou sectários, dado que o alinhamento à estrutura interna do julgamento é prioritário à adequação ou diálogo com o mundo externo. Até mesmo aqueles que buscam não ter crenças ou ideologias (como os apontados no exemplo do niilismo) geralmente têm alguma tendência sectária, que é a outra face da independência. Por outro lado, quanto mais ativa e trabalhada for a função auxiliar, mais capaz o IP está para absorver e até criar projetos interessantes a partir do que ele percebe do mundo externo, enriquecendo seus julgamentos por suas experiências com o mundo.
A função terciária dos IP, de percepção introvertida (Pi), ajuda o introvertido a voltar para o mundo interno que é, de qualquer forma, sua prioridade. Oferecendo um novo aporte de percepção das coisas, a Pi se orienta para dentro. Por isso, os momentos em que o IP entra em contato com sua terciária costumam ser momentos de descobrir-se ou redescobrir-se, e criar novas narrativas e interpretações sobre si mesmo e seu lugar no mundo. É bem comum que os IP, ao entrarem em contato com essa função, queiram mostrar ou sentir que estão se descobrindo, ou descobrindo uma nova forma de ver o mundo. Diferentemente dos IJ, que têm esse mundo novo por padrão e não se surpreendem nem mudam muito quando entram em alguma jornada de descoberta, os IP costumam surpreender-se e empolgar quando entram em contato com a Pi, por ser terciária, o que gera fenômenos interessantes, na medida em que eles se sentem verdadeiramente “(re)descobrindo-se” depois de terem definido as estruturas internas do julgamento introvertido. Esse processo difere bastante entre a Si terciária e a Ni terciária, mas é bem comum que os IP criem ou resgatem coisas subjetivas que aumentem e desenvolvam sua visão de mundo para algo menos simplesmente aberto às coisas de fora e ganhe mais ecos internos, seja com experiências acumuladas ou com princípios abstratos que eles passam a adotar.
A busca de independência faz parte não apenas da função dominante, mas da dicotomia dominante-inferior. É porque os IP buscam independência de princípios que eles rejeitam estruturas, e porque eles rejeitam estruturas que aniquilam o objeto e os consensos que nele existem. Ora, essas estruturas e consensos são o campo do julgamento extrovertido (Je), que nos IP é inferior. Assim, enquanto os IJ sentem-se oprimidos pela própria realidade, caótica e densa, os IP se sentem oprimidos pelas estruturas de tomada de decisão que veem como externas a eles, seja porque não conseguiram ou não quiseram internalizá-las. Sistemas consensuais, de valores ou de raciocínio, são opostos à forma principal de decisão dos IP, e, por isso, há uma grande dificuldade em aceitá-los, quanto mais em usá-los com sabedoria e utilidade. É muito difícil para um IP orientar-se por premissas ancoradas no objeto, e também por isso o indivíduo busca minimizá-las ou aniquilá-las. É justamente nesse ponto que se compreende o motivo de o ápice da rebeldia incutir na incapacidade de reconstrução. É preciso dialogar e construir com o objeto que se questiona, coisa que a função inferior tem dificuldade.
Muitos IP sentem-se fragilizados e inseguros perante essas estruturas e consensos. Outros mascaram sua insegurança agindo de forma cínica e (auto)destrutiva perante elas. De qualquer forma, a relação com cooperar e com consensos chega quase sempre com alguma desconfiança ou incômodo. Até mesmo porque grande parte do paradigma que orienta a sociedade atual inclui essas estruturas funcionais, isso reforça o isolamento e a dificuldade de cooperação deste grupo. Mesmo quando há a intenção ou a necessidade de cooperação, existem entraves que o julgamento introvertido coloca ao compelir o indivíduo a querer traçar um caminho próprio e de acordo com todas as suas premissas internas. Uma das soluções que muitos adotam é o isolamento, em busca de um “lugar de paz” em que suas premissas possam ser aplicadas apenas para ele mesmo. Outra é a provocação dessas estruturas que compõem a função inferior. Nenhuma dessas estratégias chega a solucionar o problema de baixa capacidade de cooperação ou compreensão do porquê certos raciocínios são consensuais.
Em termos de confusões, os IP são atualmente o grupo que mais recebe pessoas que se identificam erroneamente. Isso significa que o número de pessoas de outros grupos, até mesmo de EJ, que acabam caindo neste grupo e distorcendo seus tipos é bem grande. O primeiro tipo de confusão acontece com EP que se consideram IP. Geralmente, eles começam com essa opinião por entender mal a dicotomia entre extroversão e introversão (explicada em detalhes em outros textos) e por considerarem-se bastante solitários, ou às vezes nem por isso, apenas por serem mais quietos. O primeiro passo dos EP é entender que introversão não significa ser quieto ou precisar de tempo para si mesmo, e que sua função auxiliar fornece individualismo suficiente. O objeto de interesse de muitos EP pode não ter nada a ver com pessoas ou interações sociais. Além disso, muitos EP também podem se identificar com a rebeldia aqui descrita (não por menos este próprio site nomeou o ENFP como “O Revolucionário”, o ENTP como “O Subversor” e o ESFP como “O Espírito Livre”). Mas os EP possuem uma facilidade muito maior para intervir e modificar o objeto, justamente por poder dialogar com ele. É isso o que separa um revolucionário de um rebelde individualista e sem projeto. Por outro lado, quando os IJ identificam-se com os IP, a primeira identificação errônea tem a ver com uma ideia de que coisas como procrastinação e falta de responsabilidade só se aplicariam aos tipos P, o que, como evidenciado pelo fato de que as letras de Myers e Briggs são desimportantes na maioria das análises tipológicas, não faz sentido. Ainda mais interessante se for lembrado que os tipos IJ possuem percepção dominante, enquanto os IP possuem julgamento dominante. A maioria dos IJ que se identifica erroneamente como IP são Si-doms (ISxJ) que se beneficiarão de reconhecer todas as potencialidades da Si-dominante e perceber que estão bem longe do individualismo destrutivo dos IP. Por fim, quando EJ identificam-se com IP, isso costuma acontecer por estereótipos rasos, mas curiosamente muitos podem se ver como individualistas, já que a própria sociedade atual favorece esse tipo de ideologia. Um trabalho bem-feito com as funções ajuda no caso.
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