Tipos Exploradores

Caracterizados por funções perceptivas extrovertidas dominante, o grupo das personalidades exploradoras compreende os tipos ENFP, ENTP, ESFP e ESTP.

Por que não começar pelo seu tipo?

Conheça o que cada um quer dizer

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EPs

Os Exploradores, Os Livres, Os Empiristas

Definidos por possuírem uma função de percepção extrovertida (Pe) dominante, os EP, também chamados irracionais extrovertidos, são orientados para a exploração do objeto. O objeto, seja ele uma festa, uma loja, a internet, o catálogo de streaming, uma biblioteca ou uma empresa recém-fundada, oferece um sem-número de possibilidades, oportunidades, tangentes e experiências que valem a pena ser testadas, sozinho ou em grupo. Claro, à primeira vista, essa descrição parece necessariamente feita para pessoas alegres, ativas e enérgicas. Embora muitos EP sejam de fato assim, ver dessa forma não só oculta aqueles EP que não agem dessa forma como também aqueles que se consideram EP por serem alegres, ativos e enérgicos, principalmente EJ que se tiram erroneamente. Portanto, por mais que vários EP sejam alegres e espirituosos, este texto não deve ser lido unicamente com esse prisma. O paradigma de exploração do objeto também pode ser feito de forma mais sóbria ou colérica.

Independentemente, a capacidade do EP de saber como aproveitar o objeto é surpreendente. Em última instância, o EP consegue aproveitar e ser aproveitado pelo objeto, entregando-se ao mundo e extraindo dele o que for mais interessante, oportuno ou favorável. São chamados de empiristas por esse motivo: o uso da percepção extrovertida requer o contato com o objeto e absorção dos acontecimentos do mundo. Os EP são o grupo mais facilmente orientado ao teste como uma forma de ver o mundo. Explorar significa ver o que acontece, testar, experimentar, descobrir o novo, muitas vezes sem motivo aparente. Isso requer do EP a abertura para testar se uma nova música, um novo clipe, um novo flerte ou uma nova forma de se expressar são interessantes. A carga com que os EP se lançam à exploração é maior que a dos outros grupos, e isso requer a ausência quase completa de um filtro prévio à exploração. A pergunta “o que explorar?” tem uma resposta curiosa no caso dos EP. A resposta geralmente é sim, porque o objeto oferece diversas oportunidades que chegam sem filtro para o indivíduo. Qualquer tipo de discriminação do explorado vem posteriormente, e começa a ser mais refinado apenas com a função auxiliar. Claro, é impossível testar absolutamente tudo o que existe. Cada EP tem, naturalmente, um nicho mais ou menos definido de gostos que orientam essa exploração: será a música e a dança? A literatura? As formas de se ganhar dinheiro? As bebidas alcoólicas? A Ciência? Ou um pouco de tudo isso? A tipologia não define gostos pessoais, embora geralmente tenha algo a dizer sobre como cada pessoa aborda esses gostos. Assim, a forma de exploração, assim como ligeiras tendências de gostos, variam entre Se-doms (ESxP) e Ne-doms (ENxP), e isso pode ser notado por pessoas estudadas no campo da tipologia junguiana. De qualquer forma, a exploração que une os EP é bastante característica e marca o campo de como tratar (e expandir) esses gostos, interesses, projetos e ambições pessoais.

A percepção extrovertida, por esse mesmo motivo, é flexível. As duas funções correspondentes à Pe são as mais flexíveis das funções, embora alguns EP, particularmente alguns ESxP, prefiram ver-se de outra forma, o que será tratado posteriormente. A maioria, no entanto, percebe-se como aberta ao mundo e ao que ele oferece, e, portanto, reconhece sua flexibilidade, até mesmo flexibilidade de gostos. O senso de identidade dos EP, mesmo tendo uma âncora no mundo interno do indivíduo, flutua ao sabor do que a Pe – irracional – deseja e explora. O mundo é um fornecedor de experiências que podem alterar a própria forma de ver o mundo do EP. Ao mesmo tempo, essa forma é bem objetiva, então, paradoxalmente, suas variações não costumam afetar a abordagem geral que é de seguir aproveitando o objeto (seja o objeto concreto ou o objeto abstrato). Ou seja, no indivíduo flexível, se há algo que muda pouco é a própria flexibilidade. Enquanto o objeto aproveitado muda, a necessidade de aproveitamento muda bem menos. Justamente por isso, os EP são os que mais são interessados e seduzidos pelo novo, embora esse novo varie muito de pessoa para pessoa (novamente, dependendo de seus interesses, principalmente. O que se mantém é pouco, mesmo que marcante: uma grande ambição e objetivo pode ser mantido até que o EP consiga alcançá-la, mas outras tantas coisas relacionadas a elas, como métodos e perspectivas, podem mudar no processo. É no caso desses EP que mantêm o foco em uma ambição ou vontade que, principalmente, a flexibilidade pode ser difícil de ser vista, até mesmo por eles próprios. No caso dos Se-doms, por exemplo, a flexibilidade de entender oportunidades e momentos pelo que eles são, pode levar a uma visão tão objetiva e direta da realidade que a determinação pode ser confundida com inflexibilidade. Aqui, essas duas palavras não são antônimos porque a flexibilidade faz parte de um arquétipo manifestado em diferentes estratégias e formas de ver o mundo.

Em outros casos a própria ambição muda com facilidade em nome de um novo projeto ou desejo mais interessante. Costuma ser mais fácil para o EP adotar uma nova música favorita, uma nova estética ou uma nova abordagem científica ou ideológica, por exemplo, se ela se mostrar digna de ser explorada. O objeto explorado, por isso, pode ser dito como sedutor. Essas novidades não devem ser lidas de forma leviana. No plano micro, a maioria dos seres-humanos explora novos campos e estéticas para si, por exemplo, o que pode ou não estar relacionado à função de percepção extrovertida na posição em que estiver (dominante nos EP, auxiliar nos IP, terciária nos EJ e inferior nos IJ). Na maioria das vezes, olhar para a forma como a pessoa lida com o novo é olhar para como ela trabalha sua função Pe, mas é leviano pensar que mudar um corte de cabelo ou querer um restaurante novo, em termos isolados, seria um indício de presença forte da percepção extrovertida. Tipologia não se faz em casos isolados. Para saber distinguir o caso isolado de um padrão de personalidade, além de se ver a frequência e a importância dos acontecimentos, também é útil fazer as perguntas: por que essa pessoa mudou sua estética? Essas motivações levariam a maioria das pessoas a explorar novos ares? A “aleatoriedade” a que a pessoa se atribui é comparável à de outras pessoas? Como ela poderia ser explicada pela função dominante, auxiliar, terciária ou inferior? Todas essas perguntas são exemplos de como separar a exploração eventual que qualquer pessoa faz da exploração que define os EP.

A dificuldade do EP germina de sua própria qualidade: explorar não é algo que baste por si só. Explorar sempre leva ao dilema do tempo de parar a exploração. Quando é mais importante manter ou preservar algo, estabilizar-se ou apegar-se a uma perspectiva específica de mundo? Onde acaba a exploração? Para o EP, o mundo objetivo chega sem filtro e sem filtro é trabalhado. Outros tipos frequentemente têm dificuldade de acompanhar o grau de expansão que os EP apresentam. No entanto, em algum momento, o próprio EP também topará com essa dificuldade. A exploração em demasia pode levar à perda daquilo que é realmente importante, ou mesmo, figurativamente, à perda de si. Quem explora demais sem saber localizar-se se perde.

A função auxiliar do EP, de julgamento introvertido (Ji) é o primeiro contato com o mundo interno e com o senso de si do EP. Por causa da metáfora da exploração, a Ji, mais que as outras funções auxiliares dos outros grupos, funciona realmente como uma âncora. Mas, mais que isso, ela também é uma ferramenta, Ela é um aparato de tomada de decisões racionais subjetivas que o EP usa para orientar sua exploração. Nenhum explorador chega tão longe sem saber se orientar pelas estrelas ou pelas aves, sem saber usar uma bússola ou velas, ou ancorar o próprio barco quando necessário. Assim, o julgamento introvertido auxiliar orienta e ancora a função dominante. Mas, perceba-se, não é a prioridade, que continua sendo da função dominante. Ou seja, por mais forte que seja aquele raciocínio subjetivo que costuma guiar a função dominante do EP em um senso de individualidade específico, isso pode ser facilmente descartado se outra coisa surgir que o favoreça. Justamente por isso, a criação de estruturas internas de julgamento no EP não alcança o grau de refinamento que teria se fosse dominante. Mesmo assim, ela continua muito presente na maioria dos representantes dos tipos. A diferença marcante aqui é que o EP prefere a liberdade, não a independência. Embora esses conceitos sejam intimamente relacionados, aqui eles possuem uma diferença: preferir a liberdade significa inclusive preferir libertar-se de si mesmo no processo, e saber quando usar o mundo interno e o mundo externo. Neste texto, a independência requer a abdicação do mundo externo quando ele vai contra o próprio senso de si do sujeito. O independente não é tão livre porque ele se prende a si mesmo em suas estruturas pessoais de funcionamento.

Em termos simplistas, a Ji pode então ser lida como dando algo de foco para o EP. Isso no sentido de que ela seleciona melhor as decisões a serem tomadas com base em um conhecimento técnico ou arcabouço de princípios. É com o Ji-auxiliar que muitos EP identificam-se com um lado mais político, frequentemente rebelde, já que a orientação principal do julgamento introvertido é a rejeição de consensos externos em nome de decisões puramente subjetivas. No entanto, essa “rebeldia” não pode nem ser confundida com a tendência rebelde dos IP, descrita em seu texto, que aniquila o objeto e se afasta dele, e com a rebeldia natural que muitos adolescentes e jovens adultos sentem ter graças ao conflito geracional. Por isso, por mais que a rebeldia “libertina” comum a muitos EP seja digna de nota, até mesmo para que os EP rebeldes não se achem IP, também é fundamental frisar que ela por si só não é suficiente para definir o tipo de ninguém. É muito frequente que pessoas de todos os grupos, destacados os EJ, definam-se como EP por compararem sua postura desafiadora comum do conflito geracional, ou mesmo sua ideologia política progressista, com a de pessoas mais velhas.

A rebeldia EP, em comparação com a típica dos IP, tem um potencial bem mais construtivo em relação ao objeto. Não apenas porque os EP são extrovertidos, e por definição orientados ao mundo externo, mas também porque é possibilitado a eles o acesso à função terciária, que, se bem utilizada, permite uma capacidade construtiva e criativa única, em cooperação com o objeto. O julgamento extrovertido (Je) terciário garante que os interesses pelo objeto da função dominante levem consigo um entendimento melhor de como esses objetos funcionam pelo que eles são, e, consequentemente, permite ao EP usar esse conhecimento, novamente, em direção ao objeto. Ou seja, o primeiro uso que um EP pode perceber de sua função terciária, claro, é utilitário: usar sua função terciária, seu diálogo com consensos objetivos, para dobrá-los ou aproveitá-los ao seu favor na criação de oportunidades explorais pela Pe-dom. Isso volta a abrir o leque de táticas que facilitam a exploração do objeto, mas também a estrutura melhor. Muitos EP se contentam com esse uso utilitário e ampliador de perspectivas sobre o objeto que o julgamento extrovertido possui, até porque, como função terciária, ela costuma ser pueril e nunca alcança o verdadeiro potencial (utilitário ou construtivo) que a função teria como dominante. No entanto, como dito anteriormente, os irracionais extrovertidos também têm a capacidade de articular esses consensos da função de julgamento extrovertido terciário em nome de uma maior construção e cooperação com o objeto, limitada à capacidade da terciária. Assim, se o EP usar bem sua função terciária, saberá ter, por exemplo, uma “rebeldia construtiva” e terá algo a apresentar para colocar no lugar daquilo que foi consumido pela Pe.

Ora, é fácil que uma pergunta simples seja feita: por que aquela pessoa explora tanto? Bom, como a tipologia junguiana baseia-se em opostos que se excluem, percebe-se que uma exploração só existe porque existe a possibilidade de se descobrir algo. Ou seja, porque não se sabe o que vai ser descoberto, e isso excita o indivíduo. Ou seja, daí se deriva que o EP tem dificuldade com criar perspectiva sobre as consequências de suas ações, o que é representado pela percepção introvertida (Pi) inferior. Ou, quando ele cria a perspectiva, frequentemente não se importa. Isso não significa dizer que os EP não tenham uma preocupação com seu futuro ou com garantir algum tipo de estabilidade, ainda que deixar isso para lá seja uma consequência presente em vários EP. A falta de perspectiva pode se manifestar de forma mais sutil, mas não menos problemática. Pode levar à falta total de consistência nas ações, a comportamentos erráticos e dificuldade de sentir compromisso ou vínculo com algum maior que si mesmo. Pode levar a imediatismos, impulsividades, dificuldades de mensurar os impactos do que se diz ou faz, além de uma vulnerabilidade latente aos campos do sagrado e do reflexivo. Os EP são os tipos que menos tendem a se preocupar com algum tipo de constância. Embora a inconstância mais fácil de perceber seja aquela enérgica, aparentemente instável, outros EP costumam manifestá-la de forma diferente. Muitos deles possuem uma inconstância metaforicamente associada à fluidez da água, mais calma ou “relaxada” mas não menos mutável.

Assim, independentemente de o EP ser mais ou menos ativo, ou até bastante calmo e aparentemente passivo, a posição inferior da percepção introvertida impede de garantir a excelência e o rigor de cada passo. Afinal, não se chega longe quando se mede cada passo. Em alguns EP, isso se reflete em  impulsividade, falta de cautela e maior abertura a riscos. Em outros, preguiça ou desinteresse em pensar com detalhes as consequências e preguiça ou desinteresse de deliberar sobre um tema ou evento muito específico. Em outros ainda, pode se manifestar em cansaço ou descaso pelo aprofundamento em questões densas sem aparente reverberação em outros pontos (ou seja, nesses EP, mesmo quando interessados por questões abstratas, existe apatia quando elas dissecam em demasia um ponto só). Enfim, todo o campo reflexivo, ponderado e apegado a uma narrativa subjetiva da Pi sofre negligência geral. Há a possibilidade de o EP simplesmente não se interessar por dar um grande sentido para algo que ele vê como pequeno demais, irrelevante demais ou longínquo demais. Explorar as coisas requer não dar tanta atenção ou significado para certos elementos ou histórias. Isso facilita, claro, que muitos EP adotem a ideia de “não ligar”, e seguir em frente com seus interesses exploratórios. Mas não haveria algum ponto crucial, talvez transcendental, que eles devessem de fato ligar?

De longe, o principal grupo que se confunde com os EP são os EJ. Isso acontece principalmente quando os EJ se veem como mais divertidos, criativos e piadistas, ou mesmo mais procrastinadores, rebeldes e revolucionários do que as descrições de EJ geralmente apontam. Esses EJ sentem que as descrições não contemplam o quanto são espirituosos ou criativos, alegres e independentes, além de caírem em uma narrativa comum mais vinculada ao fato de serem jovens que à tipologia. Para a juventude, e mesmo para os jovens adultos, é fácil se ver como mais divertido, criativo e irresponsável que os mais velhos. Os EJ que se acham EP veem o estereótipo do EJ como muito certinho, responsável e sem-graça, o que empiricamente é inverídico. Claro, na média, os EJ são certamente mais responsáveis que os EP, mas generalizar isso é um erro gravíssimo. Esses EJ geralmente confundem sua função terciária com a dominante, ou simplesmente se apegam a estereótipos mais alegres e mais independentes, por vezes para se sentir mais individualistas.