Tipos Contemplativos

Caracterizados por funções perceptivas introvertidas dominante, o grupo das personalidades contemplativas compreende os tipos INFJ, INTJ, ISTJ e ISFJ. 

Por que não começar pelo seu tipo?

Conheça o que cada um quer dizer

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IJS

Os Contemplativos, Os Adoradores, Os Navegantes de Si

A percepção introvertida contempla com intensidade única os fenômenos que lhe saltam da própria psique, ganhando contornos magnânimos ou imensos, e todo o objeto fora do indivíduo IJ só tem razão de ser se ganha um significado, imbuído por essa percepção introvertida. Como os IJ possuem a percepção introvertida (Si ou Ni) na posição dominante, é ela que orienta a maioria de suas formas de pensar e ver o mundo e de lidar com seus interesses e objetivos. Imbuir as coisas de significado é importante para os IJ porque, sem isso, eles sentem-se perdidos em um mar de oportunidades objetivas sem sentido ou importância. A percepção introvertida (Pi) requer o deleite (irracional) ao redor de fatos ou ideias internalizados pelo sujeito em seu prisma pessoal de interpretação e sacralização do mundo.

Por sua função dominante, então, os IJ caracterizam-se principalmente por uma constante postura contemplativa, que pode ser vista como passiva, muitas vezes o sendo de fato. É da natureza das funções irracionais introvertidas navegar em impressões e reflexões alheias ao pensamento racional, o que também tem implicações em como esses tipos costumam ver a moralidade, o raciocínio e, claro, o mundo à sua volta. Para cultivar e navegar por um rico e detalhado mundo interno, a percepção introvertida precisa minimizar o mundo externo e prefere orientar-se nele apenas quando isso tem valor subjetivo. Em última instância, a Pi é capaz de se fechar apenas a ações guiadas por sua narrativa única da realidade, fechando-se e tornando-se intransigente a todo o resto. Mas isso não é feito por um prisma de julgamento, e sim de continuar deleitando-se em experiências subjetivas fortemente ligadas ao inconsciente. Com isso, essa interpretação de mundo vai ganhando camadas e detalhes muito valiosos para o indivíduo. Assim, a percepção introvertida é capaz de ver o mundo imbuído constantemente de algum tipo de significado, seja pessoal ou simbólico.

O que essa internalização subjetiva das informações leva é ao que é chamado “sacralização”. Não estando necessariamente relacionada a ser religioso, a sacralização diz respeito à imbuição de um valor tão intrínseco e pessoal a certo fenômeno que ele ganha contornos quase “divinos”. Existem, de fato, muitos IJs religiosos, por darem a esse fenômeno de sacralização da Pi um contorno místico e transcendental, mas isso não é regra. A sacralização da Pi-dominante ocorre até mesmo nos IJs mais ferrenhamente ateus. Todo IJ vincula-se de forma irracional a algo que é colocado num altar pessoal. Quando algo é subjetivamente internalizado, existe um processo de apego importante que, no caso dos IJ, é semi-consciente. Eles sabem o que contemplam, mas não necessariamente sabem o porquê de contemplarem e divinizarem aquele fenômeno, acontecimento ou ideia. Também por isso, a contemplação é constante, porque o fenômeno internalizado parece sempre ser redescoberto e desdobrar-se em si mesmo. No caso da Si, costuma-se revisitar um acontecimento, objeto ou situação concreta internalizada, que se desdobra tão vividamente como na primeira vez experimentada. Já na Ni, o desdobramento acontece na fixação de símbolos e visões que vão acumulando significados e dando um sentido teleológico à interpretação de mundo do indivíduo. De qualquer forma, tudo isso é sacralizado e colocado como ponto central na vida da pessoa, orientando suas principais e mais constantes decisões.

Costumeiramente, a maioria dos IJ apresenta posturas identificáveis pelo apresentado acima. É mais comum que pareçam bastante reflexivos e ponderados. Isso não é regra pelo simples fator que a tipologia jungiana não determina, no máximo influencia comportamento. Entretanto, é mais comum aos IJ uma postura passiva que prefere absorver e dar tempo de internalização dos acontecimentos antes de qualquer tomada de ação. A chegada das informações do mundo externo costuma acontecer com violência para o IJ, que pode se sentir diminuído ou oprimido por ele. Por esse motivo, além da maior reflexão e passividade, os IJ também costumam ser os tipos mais sensíveis, embora não necessariamente o demonstrem. A constante possibilidade de invasão ou sobrecarga do objeto faz os IJ bastante vulneráveis a essa sensibilidade, ainda que muitos evitem ao máximo demonstrá-la. Esse fenômeno de ocultação ocorre de forma diferente entre IJ que usam Fe e IJ que usam Fi. Além disso, a dominância de um processo pré-verbal de contemplação costuma dificultar e muito a expressão verbal e a articulação em público. Os IJ são os tipos mais propensos a serem mal-entendidos ou subestimados simplesmente por sua dificuldade em se projetar verbalmente e articularem a perspectiva única criada pela percepção introvertida. Geralmente, essa situação consegue ser contornada apenas com um consciente e benéfico uso da função extrovertida auxiliar. Mesmo assim, ainda é comum à maioria dos IJ uma tendência à prolixia, a falar ou escrever em textos e histórias longas, pela dificuldade de concisão, ao mesmo tempo em que se valoriza bastante a simplicidade e/ou o minimalismo. A prolixia de Si-doms e Ni-doms diverge bastante, mas ambos tendem a colocar coisas demais ou repetir raciocínios quando não sentem que chegaram no ponto adequado ainda.

Em resumo, em termos de comportamento, o IJ costuma ser mais contido, passivo e por vezes lento, tendo dificuldade para ser direto ou para aproveitar as coisas conforme elas surjam. Os IJ precisam parar e esperar para conferir se algo cabe na sua visão pessoal de mundo antes de continuar e aceitar novas tangentes. Com isso, os IJ tendem a ser os tipos que se apegam a alguma constância em suas vidas, diferenciando-se a forma feita pela Si e pela Ni. Essa constância na maioria das vezes transforma-se em compromisso. Os IJ costumam ser os tipos mais compromissados (com uma pessoa, com uma ideia, com uma visão), podendo levar isso às últimas consequências, não necessariamente pelos efeitos que esse compromisso têm no mundo concreto, mas por uma sensação interna de seguir o caminho definido subjetivamente. É muito comum, por exemplo, que Si-doms advoguem por uma vida simples ou pelo prazer da simplicidade das coisas, ao mesmo tempo em que seu mundo interno é rico em complexidades das impressões que cultivaram dos fatos.

Esse compromisso nem sempre é moral. Em teoria, a função de percepção dominante afasta os IJ da moral, na medida em que a irracionalidade da dominante os compele a seguir suas reflexões onde quer que elas levem. No entanto, um número muito significativo dos IJ apega-se a condutas morais consideradas “certinhas”, e isso se explica pela relação entre a percepção introvertida dominante e o julgamento extrovertido auxiliar. Todos os IJ possuem uma função auxiliar que, quando começa a ganhar presença no indivíduo, traz um contato melhor com o mundo interno, por meio do julgamento. Como o vínculo com o julgamento é auxiliar, ele pode ser muito importante no balanceamento da psique, mas também não chega a ser tão refinado quanto se fosse dominante. O diálogo com princípios externos ao indivíduo, como normas, procedimentos e expectativas, costuma ser de mera aceitação, o que ainda reforça o caráter mais passivo dos IJ, ao mesmo tempo em que muitos IJ parecem rígidos e inflexíveis, ao deixar em primeiro lugar o apego a uma perspectiva de mundo e em segundo uma adoção pouco criativa de princípios geralmente sociais. Mesmo os IJ que não se veem ou não parecem rígidos, geralmente porque sua própria visão de mundo passa por ideias de paz, amor e aceitação, costumam conservar opiniões bastante rígidas sobre sua conduta individual. O grau de controle de si mesmo é bem alto no caso dos IJ, que tentam não se deixar levar pelo objeto.

A despeito dessa adequação simplista ao que o IJ sente como normas externas, a função auxiliar fornece e fomenta outros comportamentos que possibilitam que o indivíduo seja melhor compreendido entre a sociedade. Ele passa a ser mais capaz de entender funcionamentos externos a ele e usá-los de forma mais clara e objetiva, em nome de sua visão de mundo, seja ela sutil ou grandiosa, suave ou agressiva. É mais comum que os IJ prefiram uma abordagem de sutileza, mas não é regra. O julgamento extrovertido (Je) auxiliar pode ser até bem impositivo quando normas externas e perspectivas internas do IJ estão alinhadas e ele se sente no direito (ou melhor, no dever) de impor certa estrutura ou princípio.


Opondo-se à função auxiliar e enriquecendo o mundo interno do IJ, a função de julgamento introvertido (Ji) terciário fortalece a independência do introvertido julgador e, se usada de forma correta, também amplia a gama de ferramentas do plano do julgamento para o indivíduo. Como a prioridade é manter-se no caminho contemplado pela Pi dominante, o IJ pode tentar ter acesso a diferentes formas de julgamento, com a chance de esse eixo conseguir ser mais balanceado no uso do Sentimento e do Pensamento. A função terciária presente consegue evitar que a passividade característica dos IJ transforme-se em submissão, favorecendo julgamentos próprios em nome do mundo interno da percepção introvertida. O balanceamento e o bom uso da função terciária com a auxiliar também traz mais rigor às reflexões geradas pela dominante. O IJ pode alcançar níveis de pensamento técnico ou refinamento moral singulares, tornando-se capaz de dar uma forma mais clara para as impressões e visões criadas de forma pré-verbal na Pi-dominante. Com isso, a navegação por experiências e ideias tem mais capacidade de gerar verdadeiras peças de sabedoria e interpretação única, na medida em que o IJ, tradicionalmente apenas preocupado com a contemplação, consegue melhor dialogar tanto com as expectativas do mudo externo (Je-aux) quanto com as necessidades de rigor interno (Ji-tert). Isso traz dimensões de grande valia às suas falas e ações, quando elas conseguem ser compreendidas para além do prisma subjetivo.

O ponto fraco dos IJ está em sua função inferior, na capacidade de explorar o mundo e aproveitá-lo em suas oportunidades. Para muitos IJ, é até mesmo difícil acompanhar mudanças muito bruscas de informação sem o tempo necessário para absorção. A percepção extrovertida (Pe) inferior tem pouca capacidade de adaptação a eventos bruscos ou que, de alguma forma, exijam uma mudança total ou parcial da visão de mundo em nome da adaptação. A forma como o IJ lida com experimentação pode ser comprometida ou ficar problemática por esse motivo. Há pouco espaço para a empiria sem que haja tempo para sua internalização com calma. Por isso, é comum aos IJ preferirem abordagens bastante metódicas e lentas para a absorção dos acontecimentos. Essa absorção, no entanto, é significativamente diferente entre Si-doms e Ni-doms. Coincidem os dois, no entanto, também na rejeição àquilo que não foi devidamente contemplado e atribuído um significado especial, mesmo se haja bastante potencial. É comum que IJ tentem construir “momentos perfeitos” alinhados à sua Pi-dominante que os afastam das reais potencialidades que um objeto possa oferecer. Na dúvida, é melhor seguir um panorama já internalizado. A reticência pode ocorrer de várias formas em experimentar ou lidar com as novidades, embora nem todos os IJ admitem isso, até mesmo porque não são reticentes em todas as áreas da vida. Como em algumas são bastante abertos a experiências (mas provavelmente feito dentro de certos limites impostos pela Pi-dominante), alguns costumam olhar para essa área com mais atenção, sem perceber sua reticência galopante em outras tantas. Tudo o que não consegue ser sacralizado pelo IJ está em constante risco de ser rejeitado.

A percepção extrovertida inferior costuma sentir-se mais perdida em meio ao caos externo do excesso de informações, ou sentir-se assim mais rapidamente. A espontaneidade nos IJ existe, mas tende a ser errática. Nem todos conseguem sentir-se espontâneos e poucos são caracterizados assim por outras pessoas. Geralmente, é preciso o IJ estar bem confortável em alguma situação para que haja de forma verdadeiramente espontânea. De resto, a percepção introvertida toma conta porque, para que haja exploração, é preciso abrir mão do sagrado. Nas palavras de André Gide, “Não descobrimos novas terras sem perder a visão da costa por um longo tempo”. Demasiada prudência ou insistência em algo com valor apenas para o indivíduo impede a libertação que a flexibilidade do mundo dá.

Em termos de confusões, os principais tipos que se identificam erroneamente como IJ são os EJ, seguidos dos IP. EP achando-se IJ são mais raros, mas também existem. No caso dos EJ a confusão geralmente começa pelo uso do conceito de senso comum de introversão (ver textos introdutórios no site para entender a questão). No entanto, mesmo quando o EJ se aprofunda nas funções, é possível que ele se identifique com as funções isoladas do IJ, que geralmente são as mesmas ou o eixo de julgamento é o mesmo (por exemplo, ESTJ confundindo-se com INTJ). Esses EJ diminuem ou ignoram o peso da percepção extrovertida inferior e colocam nos estereótipos de IJ um vínculo com o objeto que não existe. Eles costumam se ver como pessoas bastante decisivas e mais reclusas (novamente o senso comum da palavra introversão), ou simplesmente confundem a ordem de suas funções mesmo. Para eles, é importante entender que ser orientado para o objeto não equivale a sociabilidade alta e que a percepção introvertida dominante com percepção extrovertida inferior, como demonstrado aqui, tem suas peculiaridades. Por outro lado, quando os IP confundem-se com IJ, costumam reforçar uma ideia errônea de que os IJ seriam altamente individualistas e autossuficientes, o que não é verdade, dado o julgamento extrovertido auxiliar. Esses IP fomentam estereótipos de pessoas também decisivas, mas muito mais adaptáveis, e às vezes até mais ásperas que os IJ são de fato. Esses IP têm que entender que sua vontade de se ver como alguém mais decisivo, mais frio ou mais racional, ou alguém altamente recluso ou independente, é exatamente o que os afasta de um IJ, não o que os aproxima. Nesse caso, o mais comum é que ISTP, ISFP, INFP e INTP todos se considerem INTJ erroneamente, enquanto ISFP e alguns INFP se considerem INFJ erroneamente. Por fim, dentro dos próprios IJ, o mais comum é que os Si-dom confundam-se erroneamente como Ni-dom, o que acontece com alta frequência. Nesse caso, serão mais úteis os textos de tipo específico ou os textos diferenciando Si de Ni e SJ de NJ.

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