– ENFP –

Muitas são as tendências atuais de mistype que desaguam no ENFP, mas as duas principais, que resumem os estereótipos errados do tipo, são a do ESFP e a do ESFJ. O peso numérico dos dois tipos na criação de uma imagem estereotípica do ENFP é gigantesco, o que os faz serem os maiores prejudicados pelo fluxo de mistype para esse tipo, além do próprio ENFP. Em comum, os dois puxam o ENFP para manifestações muito mais concretas do que verdadeiramente seria a Intuição Extrovertida dominante. Depois disso, cada um dos padrões é diferente. Por causa disso, o ENFP passa a ser visto como um amálgama genérico de qualquer pessoa sociável ou “sanguínea”: alegre, energética, expansiva, otimista, espontânea e sensível. Outros estereótipos, também genéricos, envolvem criatividade, desorganização e procrastinação.

O tipo ESFJ sofre tanto com esse mistype que é quase impossível não encontrar um personagem ESFJ que alguma vez foi lido erroneamente como ENFP (ou ENFJ), a ponto de o estereótipo esperado de ENFP ficar tão impregnado pelo Fe-dominante e pela Si-auxiliar (junto da Ne-terciária) que fica mais e mais difícil diferenciar os dois tipos. Como o ESFJ costuma ser pintado de forma exageradamente altruísta ou dependente das outras pessoas para definir-se, qualquer pessoa com um pouco mais de individualidade do tipo se sente compelido a se ver de outros tipos, e o ENFP é um dos maiores receptores. ESFJ podem confundir seu Fe com Fi ao perceber que têm valores e têm consciência deles, mas ignorarem que eles nascem do diálogo com o objeto. É importante lembrar que a própria concepção da função sentimento como valores éticos ou morais é insuficiente por inúmeros motivos, ter valores (éticos) é muito diferente de atribuir valor aos julgamentos, o que é o que define o sentimento. No caso dos ESFJ, seu senso de si ancorado em elementos muito fortes da Sensação Introvertida e consciente das atribuições de valor (Sentimento Extrovertido dominante) é lido como Fi-auxiliar, mas esse não é o caso. Como os dois tipos podem ter pessoas animadas, expansivas, otimistas e sensíveis, esse conjunto de características costuma ser usado por ESFJ para justificar sua identificação geral com o ENFP. Usam, também, sua rejeição aos estereótipos de Si alta como organizada, conservadora e saudosista para justificarem não serem ESFJ. Esses estereótipos já foram extensamente combatidos em outros textos. Por fim, é importante ressaltar o lugar da Intuição Extrovertida terciária do ESFJ e suas potencialidades. Mesmo que ela não tenha um grau de consciência igual ao de uma dominante, ela costuma ter um papel muito importante na vida dos integrantes desse tipo e boa parte se identifica com ela. O reconhecimento do papel da Ne-terciária será importante no caso dos tipos com essa função, quando eles se identificam erroneamente como tipos de Ne-dominante. De qualquer forma, junto com a tendência do ESFJ, outros tipos acabam sendo puxados a se identificar mais com o ENFP, embora em menor frequência: ENFJ, ISFJ e ENTP são os principais a serem citados. Como todos possuem Sentimento Extrovertido, a penetração dos estereótipos de ESFJ nos de ENFP traz consigo essa influência de uma função sobre a outra, e abre mais espaço para os tipos citados. O caso do ENTP é especial porque, como irmãos de dominante, é até muito esperado que esses tipos se confundam. A tendência do mistype em que um ENTP se confunde com ENFP vai, no entanto, puxada com a tendência do ESFJ (que possui as mesmas funções do ENTP): pessoas ENTP que se vejam como mais sensíveis, animadas, otimistas e “sanguíneas” de modo geral podem acabar se vendo como ENFP por confundir seu Fe-terciário com o Fi-auxiliar.

Já o caso do ESFP contribui de forma diferente para a compreensão errada do ENFP, embora possa haver pontos em comum na medida em que há vários ESFP que também se identificam como bondosos e altruístas, além do geral de animados, sensíveis, energéticos e expansivos. No caso, a influência do mistype que envolve ESFP e ENFP é pintar os ENFP como muito mais corporais, diretos e vinculados à experiência concreta do que se espera de uma Ne-dominante. É interessante notar: embora o fenômeno do flerte seja comum à humanidade independente do tipo, ele de fato é mais frequente ou mais característico dos Se-dominantes (ESFP e ESTP), por toda a questão de oportunidades e experiência direta que ele envolve. No entanto, com a contaminação do estereótipo, aos poucos o tipo associado ao flerte passa a ser o ENFP, o que é incoerente em termos teóricos, ainda que, como dito, qualquer tipo possa ser propenso ao flerte. É, no mínimo, de se desconfiar quando um meme ou declaração relacionada ao ENFP pinte-o como demasiadamente corporal ou envolvido na experiência direta. O número de personagens ESFP que são lidos erroneamente como ENFP graças ao estereótipo (e à concepção equivocada do que significa ter ideais) é, por exemplo, gigantesco. Claro, junto do ESFP, outros tipos podem ter o mesmo tipo de tendência de mistype, ou similar, particularmente o ISFP e o ESTP.

– ENTP –

São tantos os ESTP que se identificam erroneamente como ENTP que o segundo tipo tem absorvido até mesmo alguns dos estereótipos mais comuns do primeiro. Enquanto os ESTP cuja autoimagem é mais voltada para serem calmos ou pouco sociáveis ou mais técnicos são atraídos para o mistype como ISTP e os ESTP cuja autoimagem é de competentes e táticos que “conseguem o que querem” são atraídos para o mistype como ENTJ, os ESTP que se identificam como ENTP são aqueles que mantêm uma identificação alegre, divertida e energética, com características semelhantes aos ExxP e ao eixo Ti-auxiliar e Fe-terciário (caráter exploratório, tendência à provocação como forma de interação com o objeto, um pensamento esquemático mais casuístico, entre outras características). Como é muito comum e o viés intuitivo é bem intenso (bem como o preconceito e o exagero que se cria da função Se-dominante), o importante para esse tipo de mistype é começar reforçando tudo o que os ESTP são, ou também podem ser, que passa pela autoimagem que essas pessoas têm de serem ENTP. É importante reforçar que os ESTP podem ser muito ativos mentalmente, não são necessariamente muito impulsivos, têm várias preocupações para além do imediato ou curto prazo, podem ser igualmente teóricos e interessados em grandes conhecimentos ou debates, podem ser tanto alegres e piadistas quanto bastante lógicos e intelectuais – inclusive, de forma não mutuamente excludente. Em suma, demonstrar as potencialidades do próprio tipo antes de diferenciar Ne de Se será um passo importante para quebrar o viés intuitivo neste caso.

Acontece que o mistype de ESTP como ENTP acaba influenciando e puxando outras compreensões equivocadas para dentro do ENTP. Uma delas, surpreendentemente comum (especialmente para pessoas com pouco contato com as funções), é a presença do tipo ESFP que se considera ENTP. Embora não possuam funções em comum, o viés intuitivo e a valoração com interpretação equivocada da letra T nos testes torna essa tendência de mistype muito comum, reforçada, como dito, pela presença dos ESTP que se consideram ENTP, e também pela presença dos ENFP que se consideram ENTP: o primeiro tipo traz influências características da Se-dominante, e o segundo traz características do Fi-auxiliar. Tudo isso distorce a imagem social que se tem do ENTP para um tipo muito mais pessoalizado e estético do que realmente é. O problema é que, para a vastíssima maioria das pessoas que se veem como ENTP, a última coisa que elas são é serem pessoalizadas, mesmo quando claramente o são. Isso tem a ver com o principal estereótipo genérico do ENTP: o de alguém que debate. Desdobradas desse estereótipo, estão ainda as ideias de que o ENTP é alguém definido por “falar verdades” ou ser “babaca”. Ou seja, para além dos problemas gerados pelo mistype, o de ENTP ainda fortalece o uso da tipologia como desculpa para atitudes socialmente negativas. E, nesse bojo, é importante falar de 6 tipos e suas identificações com o ENTP (ENFP, ESFP, ISFP, ESTJ, ISTP e INTP). O primeiro deles, que já vem sendo explicado, é o ESFP. Muitas pessoas veem nessa imagem de debatedor um “passe livre” para entrarem em discussões quaisquer, sem perceber que suas motivações e raciocínios por trás desse debate não ocorrem no moto TiFe, mas sim no modo FiTe, em que a atribuição de valor à situação começa e termina no próprio sujeito. Os usuários de Fi alto que se identificam com o ENTP (destaque ao ESFP, seguido do ENFP e do ISFP) têm um senso de querer “falar verdades” e não se importar com as reações alheias, ou até mesmo apreciar se sentirem que incomodaram por associar isso a manterem-se genuínos a suas pessoalizações. Como a função junguiana de sentimento foi maculada pela ideia de agradabilidade no Big 5, muitas pessoas com agradabilidade não tão alta, particularmente usuários de Fi, podem se ver como tipos de pensamento (T) por dar menos importância à tentativa de harmonizar com outras pessoas. Isso acontece com usuários de Fe (e alguns xxFJ podem acabar se identificando com ENTP por isso), mas é muito mais frequente nos usuários de Fi, quando não percebem que seu questionamento ou sua forma de debate continua baseada na valoração.

Essa presença do Sentimento Introvertido e da propensão ao debate ou à ideia genérica de criatividade também pressiona outro tipo a se identificar com o ENTP: o ESTJ. Qualquer ESTJ cuja autoimagem é mais criativa, divertida e aberta do que propõem os estereótipos de seu tipo é altamente propenso a se ver como ENTP, ancorado também numa identificação muito comum com a Ne-terciária. Esses ESTJ costumam gostar muito de debater, criar e, claro, se divertir, como qualquer ser-humano. Sua criatividade geralmente é muito construtiva com o objeto, especialmente estruturas às quais se vinculam de forma impessoal. O debate que os usuários de Te alto costumam apoiar é aquele que construa conhecimentos consensuais e compartilhados ou que defenda muito pessoalmente um arcabouço valorativo próprio. Como as descrições de ESTJ costumam apontar algo muito rígido e muito profissional, boa parte dos integrantes desse tipo acaba fugindo disso. Por fim, cabe comentar dos Ti-dominantes (IxTP) que se identificam como ENTP. Isso é mais comum em Ti-dominantes que abraçam o estereótipo de alguém “babaca” ou naqueles que, por força do acaso, se veem mais sociáveis que os estereótipos de seu tipo. Nota-se que o mistype de ENTP que se vê como ISTP ou INTP é mais provável e esperado, dado o viés para introversão nos testes e na cultura individualista da sociedade atual. No entanto, é totalmente possível encontrar, com certa facilidade, IxTP que se identificam como ENTP. No caso do estereótipo do “babaca”, ele é muito alimentado por indivíduos com sentimento inferior em um estado muito problemático ou reprimido, e nisso pode-se incluir também os supracitados ESTJ.

– ESFP –

O tipo ESFP é um dos mais desmerecidos e ignorados tipos dentro dos grandes vieses e preconceitos na comunidade tipológica, o que diminui drasticamente, mas não impede, que haja pessoas que se identificam erroneamente com ele. É mais comum, porém, que as identificações erradas existentes de ESFP aconteçam por terceiros. O que costuma afastar as pessoas do tipo são os estereótipos muito negativos ou muito exagerados de um tipo altamente impulsivo, interessado apenas no imediato ou no curto prazo, fútil, raso, simplista e até mesmo pouco inteligente. Obviamente, esses estereótipos são gigantescamente pesados e desfavoráveis à identificação ou ao apreço das pessoas pelo tipo. Como existem exemplos desse tipo que caem nesses estereótipos (até os mais negativos), isso facilita o viés de confirmação na hora de qualquer um evitar o tipo. Fica mais fácil imaginar alguém que se identifique com esse tipo caso tenha uma autoimagem negativa ou caso, felizmente, não tenha entrado em contato com esses estereótipos antes de se vincular ao tipo. No entanto, existem, sim, estereótipos positivos ou neutros que podem atrair pessoas ao ESFP. Esses estereótipos costumam também fazer com que terceiros vejam certas pessoas como ESFP caso se encaixem no estereótipo de pessoas vivazes, animadas, alegres, dançarinas e que gostam de sair. De longe, o tipo mais vulnerável a isso é o ESFJ. Embora não possuam funções em comum, é relativamente comum que exibam esses padrões genéricos de comportamento. No entanto, como a imagem criada dos ESFJ é excessivamente maternal e orientada às outras pessoas, qualquer membro do tipo que sinta (ou pareça externamente) que tem um individualismo maior pode acabar sendo mistype de Fi-auxiliar. Devido ao viés intuitivo e à função Ne-terciária, esse mistype é muito mais comum de ESFJ que se identificam como ENFP, mas esse tipo também é vulnerável ao mistype como ESFP. Existem muitos ESFJ que cumprem exatamente os estereótipos mais alegres e “individuais” do Fi-auxiliar; que gostam de dançar, sair e divertir-se; que não são altruístas ou maternais como manda o estereótipo de seu tipo; que apreciam o melhor da vida justamente pelo seu mecanismo de funções. Em última instância, esse fenômeno dos ESFJ pode acometer qualquer tipo, que eventualmente se verá como ESFP. É raro, porém.

– ESTP –

Ao passo que os estereótipos de Se-dominante num geral e de ESTP no particular expulsam um enorme número de pessoas do tipo para outros (como o ENTJ, o ISTP e o ENTP), eles podem vir a atrair certas pessoas, e, consequentemente, gerar mistype. Isso acontece até mesmo com pessoas que conhecem as funções cognitivas – ou, possivelmente, principalmente com elas, porque há maior chance de terem limpado um pouco dos vieses das leis gerais. Geralmente, a pessoa que busca se identificar como ESTP quer se sentir livre, direta, expansiva e esperta em sua identidade. A pessoa rejeitaria seu tipo caso não encontrasse nele, ou em suas funções, esse tipo de características. Isso é, assim como no caso do ESFP, propenso a acontecer em Fe-dominantes, que ainda se identificam como extrovertidos, mas rejeitam as imagens demasiado maternais dos ExFJ. A associação da letra J em tipologia junguiana ao alto neuroticismo no Big 5 reforça essa tendência. Embora, como já comentado, o viés intuitivo torne mais propensos os ExFJ a se ver como tipos intuitivos, isso também pode acontecer com o ESTP. Pessoas com uma autoimagem de indivíduos ásperos, decididos, táticos e autoconfiantes são mais propensas a cair nesse tipo de mistype. Teoricamente, é possível esperar que alguns Te-dominantes se vejam assim, dado que as descrições de seus tipos forçam muito para imagens profissionais, mas outros vieses parecem afetar mais os ExTJ. Por fim, também é esperado que tipos com estruturas funcionais ou letras mais próximas do ESTP sejam os mais propensos a se identificar com o tipo, caso criem o mistype a partir dos testes. Paradoxalmente, como foi dito, romper os preconceitos causados pelas tendências gerais de mistype significaria entrar em contato com as funções e desconstruir a ideia de que testes indicam seu tipo.