Lógicas comuns ou esperadas do mistype - tipo a tipo

Explicamos detalhadamente quais são os principais padrões de confusão de tipo

Parte 1: ExxJ

– ENFJ –

O tipo ENFJ é o anti-exemplo do viés intuitivo. Como, pela lei geral, as letras E e J têm sido desfavorecidas e a letra F é valorizada negativamente, esse é o tipo intuitivo atualmente menos receptor de mistype (ao passo que ISTP e ISFP são os tipos sensoriais mais receptores). ESFJ é o principal tipo propenso a se considerar ENFJ. Eles compartilham a mesma dominante e boa parte dos principais estereótipos, mas o ENFJ vira o “polo positivo” e o ESFJ o “polo negativo”. O ENFJ é até visto com mais charme ou interesse, enquanto os ESFJ, pela visão errada da Si (e por supostas experiências negativas de algumas pessoas com membros desse tipo), são enquadrados como chatos, irritantes, invasivos, sem personalidade, pequenos, passivos ou sem graça. Mesmo no estereótipo de Fe-dominante como “manipulador”, o ENFJ é lido como manipulador de grandes massas e grupos, enquanto ao ESFJ é relegado apenas o de manipulador em escolas e ambientes de trabalho. Os dois tipos irmãos de dominante passam a ser vistos de formas radicalmente diferentes, com o ENFJ sobrevalorizado. Essencialmente, qualquer pessoa que cultive uma autoimagem humanitária ou socialmente carismática ou engajada pode cair nesse mistype.

Outro destaque pode ser dado ao ESFP e ao ISFJ. De formas diferentes, os dois tipos podem ser seduzidos pela imagem carismática e “direcionada às pessoas” que o ENFJ tem. O fenômeno é diferente pela forma como se articulam as funções. No caso do ESFP, se ele não se identificar com os estereótipos exagerados sobre seu tipo, pode se ver de forma mais “séria” ou empática do que o esperado para ele e cair no ENFJ. Ao conhecer as funções, mantém a ideia sobre o eixo de percepção, mas diminui a Se para a posição terciária e supervaloriza a Ni – geralmente por questões de misticismo, crendices, ambições ou megalomanias, temas mais comuns na Ni-inferior. Outro tipo que segue um padrão semelhante a esse é o ISFP, embora o caminho contrário (ENFJ sendo visto erroneamente como ISFP) seja mais frequente. No caso do ISFJ, se ele se vir como extrovertido no senso comum (social), o que é mais fácil devido ao Fe-alto, pode acabar se apegando ao ENFJ e reconhecendo seu Fe, podendo aqui quebrar o viés intuitivo e diferenciar seu Ti-terciário como um caminho fácil para desconstruir o mistype. Algo similar pode ocorrer com o INFJ, até pela proximidade de funções, mas o viés em favor do tipo costuma ser tão grande que o fenômeno fica mais raro que o esperado.

Por fim, cabe notar que pode haver um mistype – mais comum em mulheres, pela socialização feminina que cobra certos comportamentos – entre portadores de Te-alto, particularmente ESTJ e ENTJ, caso as pessoas desse tipo se vejam como empáticas e sociáveis, e não frias e austeras, como costumam ser as principais imagens criadas desses tipos. A verdade é que muitos Te-dominantes se aproximam em comportamento dos Fe-dominantes e podem querer se identificar com isso pela ideia genérica de empatia. Não é muito comum, no entanto, pela sobrevalorização da função Te e do Pensamento como um todo por cima do Fe e do Sentimento. Outros tipos provavelmente se identificarão mais na base de estereótipos genéricos, uns com mais propensão (como o ENFP) e outros com menos (como o ISTP), mas seguindo esses padrões.

– ESFJ –

O tipo ESFJ é certamente um dos maiores “emissores” de mistype, possivelmente o principal deles, o que faz com que número de mistypes que se identifiquem como ESFJ seja bem baixo. Os padrões de mistype devem acontecer principalmente entre tipos próximos em termos de funções (como ENFJ, ISFJ e ESTJ) identificando-se com ele, mas isso tem sido quase puramente hipotético, tamanho é o viés e o preconceito que o tipo ESFJ sofre na comunidade e nos testes. Por esse motivo, também, espera-se que a maior propensão do fenômeno do erro do tipo para ele ocorra por terceiros, quando outras pessoas atribuem erroneamente o tipo ESFJ a terceiros. Nesse caso, o padrão costuma ser majoritariamente geracional, etário e negativamente relacional. Ou seja, o tipo ESFJ, pelos preconceitos e estereótipos de papel social que lhe imputam, é atribuído a pessoas mais velhas, particularmente familiares, ou pessoas da mesma idade da qual a pessoa que atribui erroneamente tenha alguma repulsa. Os estereótipos exagerados de ESFJ cobrem papéis de gênero ou comportamentos tóxicos que facilitam com que mulheres mais velhas, mães, avós e tias, ou garotas consideradas sociáveis na escola possam ser vistas nesse tipo, especialmente se forem vistas com algum desdém dado o estigma que o ESFJ carrega. Ainda assim, mesmo esse padrão complicado deve ser usado principalmente para expandir as outras manifestações possíveis do tipo, que também ocorre com frequência em homens ou pessoas de qualquer idade, cada um de seu jeito. Romper o estigma com o ESFJ ajudará a trazê-lo para uma posição mais identificável em qualquer faixa etária e a trazer os vários integrantes deste tipo espalhados como mistype em outros, até dos mais inesperados.

No caso dos estereótipos positivos, realmente os tipos mais hipoteticamente propensos a se identificar com o ESFJ são aqueles citados em cima. O ENFJ, se sua orientação racional e objetiva lhe fizer se identificar como “prático”, e, consequentemente, associar isso à função sensação; o ISFJ, se se identificar com extroversão social e orientação a pessoas; e o ESTJ, se se crer mais empático e sociável em relação ao que as descrições de seu tipo costumam dar. Outros tipos seguem o mesmo padrão, mas de forma cada vez mais e mais improvável se for feito pela própria pessoa.

– ENTJ –

Os dois tipos mais importantes de serem mencionados aqui, o ESTJ e o ESTP, revelam as principais tendências de confusão do ENTJ com outros tipos, inclusive além deles. Os dois têm grande tendência de se considerar ENTJ. No caso do ESTJ, assim como no caso do ENFJ-ESFJ, ele representa o polo negativo dos estereótipos sobre Te-dominante e é frequentemente inferiorizado ou desmerecido. Como o Pensamento Extrovertido é demasiadamente associado ao contexto profissional, duas palavras genéricas e bastante em voga atualmente resumem bem a diferenciação valorativa que se faz dos dois tipos: o ENTJ incorporaria o conceito positivo de “líder”: capaz, competente, cooperativo, determinante, produtivo e “empreendedor”, enquanto o ESTJ concentraria as ideias negativas do “chefe” chato, impositivo, autoritário, mandão e agressivo. O viés intuitivo consegue colocar o ENTJ muitas vezes como um dos tipos mais admirados e o ESTJ como um dos tipos mais execrados, o que não faz nenhum sentido teórico ou prático: tendo a mesma função dominante, os dois tipos são muito próximos. Esse padrão acontece tanto para a identificação errada do próprio tipo (mistype) quanto para a atribuição do tipo a outras pessoas ou personagens. É comum que ESTJ sejam lidos como ENTJ se forem apreciados, por exemplo. Ainda assim, essa tendência preserva o funcionamento geral do Te. Por esse motivo, os outros tipos que poderiam eventualmente se confundir com ENTJ nesse caminho seriam os outros usuários de Te: ISTJ, e, com muito menos frequência, INTJ (o caminho contrário é bem mais comum).

Já o caso do ESTP é mais destrutivo para ambos os tipos. Um grande número de ESTP se identifica erroneamente como ENTJ por ser assertivo, prático, pragmático, decisivo e direto – qualidades típicas de muitos usuários da Sensação Extrovertida. Esses ESTP podem ou não ter uma autoimagem voltada para o ambiente profissional (apreciando qualidades como “empreendedor” ou “estratégico”), mas esse fator é um bom indício do mistype. O padrão entre tipos com Se-dominante (ESTP e ESFP) e o ENTJ é tão grande que várias características ou tendências Se passaram a ser lidas erroneamente como Te. Isso também é prejudicial, claro, para os ESTP. Um exemplo é a questão de planejamento ou engenho. Um bom número de ESTP costuma ser muito tático e planejador. Não por menos, muitos grandes generais da história foram desse tipo. No entanto, qualquer perspectiva de sagacidade, planejamento ou intelectualidade se esvai das descrições do tipo conforme mais e mais mistypes acontecem. Por outro lado, o ENTJ vai sendo lido como um tipo excessivamente material e materialista, coisa que ele não é, além de agressivo, corporal e violento, coisas que pouquíssimos o são. Esse fenômeno que ocorre tipicamente com ESTP também leva muitos ESFP a se verem como ENTJ. No mesmo bojo, mas menos, estaria o tipo ISTP ou até algum ENTP ou ENFP que, sendo mais estereotipicamente “empreendedor”, se vê ou é visto como ENTJ.

Mais ou menos num meio-termo entre os dois fenômenos estão o ENFJ e o ESFJ, que, especialmente em homens, podem acabar se considerando ENTJ, devido à socialização masculina e aos papéis de gênero que envolvem ser “racional” e menos emocionalmente expressivo, com exceção da raiva. Como existe uma valorização do Pensamento sobre o Sentimento, é possível que usuários de Fe-dominante, se quiserem se justificar sua sensação de racionalidade ou competência, descarreguem isso no Pensamento Extrovertido. É um meio-termo porque eles provavelmente também puxarão um pouco dos estereótipos trazidos do ESTP para o tipo ENTJ. Num caminho similar, Fi-dominantes (INFP e ISFP) podem se ver como ENTJ caso queiram se ver como “frios e racionais”, além de autoritários, coisa que o Sentimento Introvertido pode ser com muita facilidade.

– ESTJ –

Como o ESFJ, o ESTJ é muito desfavorecido no ambiente tipológico atual, o que torna muito raro que alguém se identifique erroneamente como tal. A probabilidade maior está nos tipos mais próximos, o ENTJ, o ISTJ e o ESFJ, além de hipoteticamente tipos com Te-auxiliar ou terciário (INTJ, ESFP e ENFP). Também como o ESFJ, dado que os estereótipos de ESTJ costumam ser muito negativos e muito fortes em termos etários e geracionais, é mais comum que os erros venham na atribuição errônea desse tipo a terceiros. No caso do ESTJ, há um agravante, que é a tendência de associação de comportamentos violentos, agressivos, “mandões” ou controladores a esse tipo, fazendo com que qualquer familiar ou chefe seja propenso a ser considerado desse tipo simplesmente por estar em uma posição de poder e, eventualmente, dar alguma ordem. Também faz com que qualquer pessoa “malvada” seja lida pelo estereótipo como ESTJ, danificando a ideia que as pessoas têm do tipo. A clivagem de gênero também é importante aqui: é possível que um homem com Fe alto, principalmente ESFJ, seja lido como ESTJ no contexto da socialização masculina. É relativamente comum que homens com Fe alto creem ter Te. Até mesmo porque, como o Sentimento Extrovertido tem a ver com entender papéis sociais (sem necessariamente segui-los), é bem compreensível que um homem com Fe-alto se veja em descrições de impessoalidade ou eficiência Te. Romper o estigma com o ESTJ ajudará a trazê-lo para uma posição mais identificável em qualquer faixa etária e a trazer os vários integrantes deste tipo espalhados como mistype em outros, até dos mais inesperados. De qualquer jeito aquelas pessoas que eventual ou hipoteticamente forem mistype de ESTJ o serão por se identificarem com a ideia. O estereótipo positivo gira em torno de uma pessoa competente, esforçada, compromissada, decisiva e necessariamente bem-sucedida, o que pode ser apelativo para alguns tipos, principalmente os já mencionados, e o ESTP.