Veja as diferenças entre confundir tipos a partir da posição das funções
Confusão de funções auxiliares com a mesma dominante (ex.: ESFJ e ENFJ): esse tipo de mistype é o mais facilmente compreensível em termos teóricos, seguido de perto pelo tipo de mistype entre extrovertidos e introvertidos (ex.: ESFJ e ISFJ), já discutido anteriormente. Em verdade, nos primeiros escritos de tipologia junguiana, esses dois tipos poderiam ser considerados um só, a rigor. Hoje, com a definição do stack em 4 funções, esse não é o caso, mas a proeminência da relação dominante-inferior na tipologia junguiana faz com que esse tipo de confusão seja de simples entendimento e previsão teórica. Até mesmo em termos de testes baseados em letras, como são sempre 3 em comum, é previsível que haja muita dúvida nessa relação. No entanto, dúvida é diferente de mistype, como foi discutido anteriormente. Como a pressão do viés nos testes é muito forte e aponta para tipos bem específicos, às vezes o mistype em si entre dois tipos com a mesma dominante não é tão comum como se esperaria simplesmente porque ambos os tipos sofrem mistype em direção a outros. Por exemplo, como os testes enviesam para as letras I e N, poucas pessoas cultivam a dúvida entre Se-dominantes (ESFP e ESTP) e, quando o fazem, já tiveram um contato mais aprofundado com as funções e uma abertura maior às dúvidas, o que não configura mistype. Ou seja, as tendências de confusão e mistype pela ótica das funções seguem a lei geral do mistype, em que os tipos fluem majoritariamente em direção das letras mais enviesadas nos testes do momento. É por isso que, como se verá, há mais ESTP identificando-se erroneamente como ENTP, ENTJ, ISTP ou até mesmo outros tipos (INTJ, INTP, ENFP) que com ESFP, seu irmão de dominante.
Confusão de funções dominantes com a mesma auxiliar (ex.: ESFJ e ESTJ): ter uma auxiliar e uma terciária comuns significa que o eixo com mais potencial de ser equilibrado no indivíduo, mas também menos representativo de sua forma de direcionar a consciência é o ponto de ligação entre dois tipos. Isso não significa, no entanto, que no mundo real essa confusão seja menos comum que a confusão com a mesma dominante, porque as leis gerais do mistype apresentadas são mais impactantes, então as confusões mais comuns tendem a ser aquelas que mantêm esses padrões baseados em letras, independentemente de serem funções dominantes ou auxiliares (além de haver, claro, a possibilidade de a pessoa em dúvida entre o tipo X e o tipo Y, com a mesma auxiliar, não seja nenhum dos dois). Assim, é mais comum encontrar pessoas que estejam em dúvida entre INFP e INTP que pessoas em dúvida entre INFP e ISFP, não porque os dois primeiros tipos se pareçam mais, mas porque o viés intuitivo afasta as pessoas de considerarem tipos sensoriais. O mesmo fenômeno baseado em letra, mas agora no campo da dominante, é o que faz as pessoas estudarem mais as confusões entre ENFP e ENTP, e não entre ENFP e ESFP. Embora esse segundo exemplo seja mais “esperado” em termos teóricos, porque de fato a função dominante tem um caráter principal na semelhança entre os tipos, ele geralmente não se deve a isso, mas sim ao viés intuitivo. Por esse motivo, é até comum que pessoas do tipo ESFP oscilem de dúvida entre ENFP e ENTP. À parte isso, a confusão entre tipos com a mesma auxiliar costuma ser mais uma confusão do modo principal de pensamento da pessoa, enquanto ela tem mais consciência das ferramentas que usa para esse modo ainda desconhecido (o eixo dominante-inferior). É importante para essa pessoa tentar distinguir, dentro das manifestações extremas da dominante e da inferior, qual é a mais vulnerável, potencialmente negativa e menos confortável dessas extremidades. Uma pessoa que esteja em dúvida entre pensamento ou sentimento dominantes, mesmo que saiba de seu desbalanceamento nesse ponto, deve então ver qual extremidade parece mais vulnerável.
Confusão da função terciária como dominante (ex.: ESFJ como ENFP ou ENTP) e o caminho contrário (ex.: ESFJ como ESTP ou, novamente, ENTP): essa confusão é particularmente interessante pelo número grande de pessoas que acabam caindo nela, mesmo que isso não fosse ser esperado em termos de letras. Teoricamente, esperar-se-ia que as pessoas fossem se identificar erroneamente com tipos próximos ao seu (por exemplo, um ESFJ com um ESTJ, ISFJ ou ENFJ), mas frequentemente isso não acontece, muito devido às leis gerais anteriormente apresentadas. No caso do apresentado aqui, existem dois fenômenos que fazem os tipos se identificarem com aqueles que possuem sua terciária como dominante, ou com aqueles que possuem sua dominante como terciária. Esses fenômenos são ligeiramente diferentes, mas afetados pelas leis gerais como o viés intuitivo: é mais esperado que um ESFP se acredite ENTJ (Te-terciário acreditando-se Te-dominante) que um ENTJ se acredite ESFP (Se-terciária se achando Se-dominante), graças ao viés intuitivo. Assim, no caso do tipo ENTJ, ele é mais “receptor” dos mistypes relacionados à função terciária (ESFP e ESTP, com Se-dominante, acreditando ter Se-terciária), enquanto o tipo ESFJ é mais “emissor” (ESFJ, com Ne-terciária, acreditando ter Ne-dominante). De qualquer forma, o conceito de “tentação terciária” é importante para entender de onde surge essa tendência geral tão forte de identificação errônea. O conceito de tentação terciária argumenta que, como a terciária tem a mesma orientação da dominante (ambas extrovertidas ou ambas introvertidas), ema algumas pessoas há a tentação de manter a orientação mais confortável e se apegar à função terciária, a tal ponto que o indivíduo crê que essa função é dominante, enquanto apenas a tem um pouco mais pronunciada. Como a função dominante dita a consciência de forma que nem sempre as pessoas percebem, e a terciária pode surgir como algo divertido, sedutor e interessante, a autoimagem pode se direcionar a essa visão mais esporádica e “pueril” que a pessoa tem de si mesma. Tipos com pensamento terciário podem querer se achar extremamente racionais e lógicos sempre que usam a função pensamento uma vez ou outra. Da mesma forma, com relação a funções menos apreciadas num geral, há a tendência de relegá-la à terciária para que a pessoa se distancie do que realmente lhe move. Pessoas com Sentimento Extrovertido (Fe) dominante podem querer se ver como ExTP para se sentirem mais livres de julgamentos e justificar sua autoimagem de “faladores de verdade” ou “racionais provocativos”, sem perceber que a forma com que fazem isso deriva do Sentimento Extrovertido dominante, relegado à “inofensiva” função terciária. Há que se notar também outra forma de dividir esse tipo de confusão: além da confusão “terciária por dominante” versus “minha dominante na terciária alheia”, também existe aquela confusão que mantém coerência com as funções ou a que mantém coerência com as letras. Assim, um ISTJ que se acha INTP confunde o eixo TeFi com o eixo TiFe, mas mantém a coerência de ter função pensamento alta. Já um ISTJ que se acha INFP mantém coerência das 4 funções, mas se equivoca em sua ordem. Conforme a pessoa se aprofunda nas funções, é mais comum que ela passe do primeiro tipo ao segundo, ou que acabe contornando o próprio tipo. Por exemplo, um ESTJ que se acreditava ENTP e depois passa a perceber seu Pensamento Extrovertido pode acabar pensando antes em ser ENTJ, mesmo que ENTP e ENTJ não tenham funções ou estruturas comuns, graças ao viés intuitivo.
Confusão de função dominante e inferior (ex.: ESFJ como INTP ou ISTP): existe aqui alguma ruptura radical da autoimagem da pessoa com seu funcionamento comum, mas ao mesmo tempo não é um distanciamento. Provavelmente, a pessoa passou por períodos de grande manifestação da inferior e acabou se apegando a eles a ponto de confundir a inferior com a dominante. O outro motivo desse tipo de mistype é apenas o fato de que testes de personalidade são tão ruins que qualquer coisa é possível: não é incomum encontrar alguns ESTP crendo ser INTJ, por exemplo. Mas, se a pessoa leva esse tipo de confusão até mesmo ao conhecer com mais profundidade as funções, significa que seu ego talvez esteja dando uma volta completa em que vulnerabilidades e inseguranças são lidas com confiança, ou se a pessoa tem uma visão muito negativa (ou projetada de forma exageradamente positiva) do tipo que acha ser ou do tipo que é. Curiosamente, não só a pessoa que passa por essa confusão, mas também a própria comunidade, têm a aprender com esse tipo de mistype. Isso porque ele pode ajudar a entender a real natureza do dualismo característico do pensamento junguiano (e da Ouroboros), que indica como dois tipos aparentemente opostos podem, em vários aspectos, serem assustadoramente semelhantes. Pessoas que estudam as funções com seriedade, mas se creem ser dos tipos de sua inferior, podem estar comendo a própria cauda de alguma forma.
Confusão de funções altas com as mesmas funções em orientação oposta (ex.: ESFJ e ISFP) ou fenômenos similares (ex.: ESFJ e INFP, ESFJ e ESFP): embora não muito esperadas, pode-se surpreender com a frequência de certos mistypes que acontecem nessa dinâmica, muito influenciados por compreensões equivocadas de letras e funções e o apego mais à ideia geral de um tipo, seus comportamentos estereotípicos esperados e suas supostas habilidades, que no estudo com calma do que constitui aquele tipo. Ou seja, deve-se esperar que as pessoas que se confundem nesse estilo guiem-se ou por ideias muito gerais do que acham que são os tipos, ou por pontos específicos de semelhança que justificariam a confusão (por exemplo, tanto Fe-dominantes quando Fi-dominantes são conscientes e apegados aos seus próprios valores, mas muitos ExFJ usam esse fato para se justificarem como IxFP). É importante sempre notar que, como esses tipos não possuem funções em comum, suas semelhanças costumam ser mais superficiais e eles parecem mais próximos de longe. Eles podem incorrer em comportamentos relativamente semelhantes, mas a essência dos tipos pelas funções é bastante diferente.
Outras dinâmicas de confusão (ex.: ESFJ como ISTJ, ESFJ como INFJ, ESFJ como INTJ, ESFJ como ENTJ): essas dinâmicas dependerão largamente dos tipos envolvidos e são mais difíceis de serem mapeadas, mas são todas possíveis. Mais que as outras, mapear estas dependerá do estereótipo em voga de cada tipo e como isso se relaciona com a autoimagem, os vieses e as leis gerais. O tipo ESFP, por exemplo, pode ter essas três últimas dinâmicas com frequência, dependendo de como ele se vê: “racional fodão” (ESFP como ISTP), “racional esquisito” (ESFP como INTP), sensível (ESFP como INFP) ou provocativo (ESFP como ENTP). Ao mesmo tempo, como são confusões radicalmente inesperadas em termos de funções, são até difíceis para que um estudioso das funções possa explicá-la para a pessoa, dificultando a penetração da ideia, porque provavelmente a pessoa terá uma grande rejeição à ideia de seu tipo em específico. O ideal, nesse caso, é aproximá-la aos poucos, reduzindo as resistências uma a uma. Uma pessoa que identifique isso deverá encontrar o ponto de menor resistência e trabalhar a partir dele. Um ISFJ que se creia INTJ talvez primeiro precise entender o eixo FeTi e se acreditar INFJ, antes de entender sua dominante.
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