Explicamos detalhadamente quais são os principais padrões de confusão de tipo
O tipo INFJ talvez seja o que tem estereótipos menos coerentes entre si. Até outros mais generalizados e afrouxados mantêm um núcleo comum: o INFP é genericamente fofo, sensível e idealista; o ENTP é provocador e debatedor. Mas o INFJ é pouco compreendido, e isso é benéfico principalmente para quem cai em mistype do tipo. Boa parte dessas pessoas não faz questão de entender ou mesmo dar coerência para os estereótipos do INFJ (talvez o único deles sendo que é um tipo “incompreendido”), para que cada um use o INFJ da forma que bem entende. O INFJ que convém aos usuários de Fe (ISFJ, ESFJ, ENFJ) que se identificam erroneamente é o INFJ com um Fe sobrevalorizado, humanitário, altruísta e empático. O INFJ que convém aos usuários de Fi (particularmente o ISFP) que se identificam é o INFJ excessivamente “introvertido” (socialmente), místico, artístico e individualista. A partir disso, uma miríade de outras características genéricas e soltas são feitas para os estereótipos do tipo, cada uma usada ao gosto de quem quer ou não se identificar. Há a ideia de que os INFJ são misteriosos, ou que são incompreendidos, ou que gostam de chá, ou que são necessariamente cultos e inteligentes, ou que são paranoicos, ou que têm o poder de ver se as pessoas estão mentindo e identificar falsidade, ou que têm o poder de prever o futuro, ou que desconfiam de todos, ou que fazem joguinhos emocionais, ou que gostam de tarô e cristais, ou que, num dos estereótipos mais específicos já criados pela comunidade – e majoritariamente equivocado, porque tem mais a ver com o Sentimento Introvertido – que têm o costume de fechar suas relações com alguém que os magoou para sempre, completamente excluindo a pessoa de sua vida, sem nunca mais voltar atrás. Esse self-service de características para criar uma imagem do INFJ tem sua racionalidade, como já foi dito. Para isso, deve-se destrinchar as quatro influências que favorecem esse fenômeno: a presença do Sentimento Extrovertido alto, a presença do Sentimento Introvertido alto, a presença da intuição baixa e a atribuição de características genéricas de pessoas ansiosas.
A primeira delas é a mais orgânica e compreensível, dado que o INFJ também tem Fe alto. Assim os estereótipos de Fe não são tão nocivos para o INFJ como tipo, mas os vieses intuitivo e extrovertido fazem com que o tipo atraia todos os outros 3 com mais facilidade e frequência. Na busca por um senso de identidade, as pessoas desse tipo convergirão em criar uma ideia genérica do Fe e do INFJ que contemple também os ISFJ, ENFJ e ESFJ, catalisando a função auxiliar do tipo e apagando as reais implicações da Intuição Introvertida dominante, que, dos 4, só o INFJ tem. Como existe um bom número de ESFJ e ENFJ que se acha INFJ, isso oculta, também, a função terciária (o mesmo acontece com o ISFJ, o que faz com que ambos INFJ e ISFJ sejam pintados de uma forma muito mais Fe do que são realmente. Esse fenômeno é mais forte no ISFJ, como se verá, pela presença de usuários de Fi no caso do INFJ, e não tanto no caso do ISFJ). Assim, no self-service do INFJ, o tipo é o ápice do humanitarismo, da empatia, do complexo de mártir e da bondade para quem quer se ver assim, majoritariamente outros xxFJ. É importante desembolar esse “microambiente” de mistype combatendo o viés intuitivo e o introvertido, especialmente demonstrando as reais características e qualidades da Sensação Introvertida, dado que xSFJ são maioria nos mistypes com INFJ em relação ao ENFJ. Inclusive, a característica de “paranoicos”, tão frequentemente associada ao INFJ, é mais presente na Intuição Extrovertida inferior, ou seja, em ISxJ. Disso se tratará mais para frente.
A segunda influência é a do Sentimento Introvertido alto. Devido ao viés intuitivo e à tendência de mistype pela função terciária, é o ISFP o tipo mais característico a ser mistype como INFJ (pessoas que estão em dúvida entre INFP e INFJ costumam não ser nem um nem outro). Por um lado, a grande presença de ISFP que se acham INFJ ameniza um pouco a exacerbação do Fe vindo dos outros xxFJ, mas, por outro, é uma tendência muito mais nociva à compreensão do INFJ, além de pressionar, junto com ESFJ e ENFJ, a uma ideia de sentimento dominante (Fi ou Fe) que não é o caso do INFJ. O self-service acontece porque, por um lado, o INFJ recebe todos os xxFJ catalisadores de Fe, mas, por outro, alguns estereótipos difundidos sobre INFJ são muito mais prováveis de acontecer em usuários de Fi-alto, como é a ideia de que todos os INFJ possuem um “fechamento de portas” para relações, quando se sentem traídos ou machucados. Esse tipo de comportamento costuma requerer um alto nível de pessoalidade em que a valoração começa e termina no sujeito, e ele se sente bem em se fechar plenamente para o objeto, o que é raro em tipos com Fe-auxiliar. Pode acontecer, claro, mas é raro. É quase curioso como, de um lado, os INFJ são colocados como o tipo mais humanitário, dedicado aos outros e diplomático, o que é um exagero errôneo, mas, por outro, a presença do Fi-alto também frequentemente o pinta como o mais individualista e autocentrado dos xxFJ. Essas duas tendências são antagônicas e colaboram para que o tipo seja um dos mais verdadeiramente incompreendidos. Isso é bom para quem quer se identificar com ele, porque, se ninguém compreende algo, qualquer um pode decidir o que aquilo é. Claro, é importante que exista algo que una essas tendências contraditórias, e isso escapa à tipologia, mas, antes, falar-se-á da outra grande influência de função: a intuição baixa.
Principalmente graças ao ISFP, mas também ao ISTP e ao ESFP, o INFJ passa a ser caracterizado como se tivesse Ni baixa. E, principalmente graças ao ISFJ e o ESFJ, também com Ne baixa. As associações com a intuição do INFJ costumam ir muito para o lado negativo da função ou um lado positivo sempre orientado para o mundo concreto, ou seja, a tentativa de trazer a intuição para a sensação. A intuição baixa é mais propensa a paranoias, conspiracionismos e desconfianças de “intenções ocultas”. Ela também é mais propensa a querer ter ou se vangloriar de “usos concretos do abstrato”, como prever o futuro, “ler as intenções das pessoas” para decidir quem está sendo verdadeiro ou usar uma religiosidade ou misticismo para afetar o mundo (por exemplo, colocar alguma coisa em casa para atrair prosperidade ou alinhar energias). Também a ideia de que o INFJ tem impressões sobre fatos que não sabe explicar é uma meia-verdade, porque esses “pressentimentos inexplicáveis” também são presentes em pessoas com intuição baixa, e muitos INFJ, especialmente se estão em mais contato com as funções de julgamento, querem justamente verbalizar e dar sentido a seus contatos com a Intuição Introvertida, que é muito mais complexa na posição dominante, e nem sempre se preocupa em ler “o que realmente é”, e sim fazer interpretações simbólicas abstratas que começam e terminam no mundo abstrato.
O que une todas essas tendências desconexas? Ideias bastante gerais e genéricas, como as que afetam os outros tipos muito receptores de mistype. No caso do INFJ, além da imagem de idealismo e individualidade sensível (que puxa tanto aqueles que querem se ver como muito individuais quanto aqueles que querem se ver como muito humanitários), é a própria ideia de mistério que favorece que ninguém explique o que lhe faz INFJ porque tudo seria misterioso e inexplicável: são paranoias inexplicáveis ou premonições inexplicáveis ou o fato de serem incompreendidos pelo mundo, ou qualquer coleção de ingredientes que, pelo menos de longe, cheirem a alguém sensível, idealista e misterioso.
Existe um problema social latente aos estereótipos do INTJ, que também precisa ser discutido junto aos padrões de mistype. Esse problema também afeta o ENTP, o ENTJ e, em menor grau, o INTP, mas é no INTJ que isso toma as maiores proporções. A criação dos agrupamentos de Keirsey, já extensamente criticados aqui, criou um enorme fluxo fetichista direcionado ao grupo “NT”. Como esse grupo não tem funções em comum, todas as semelhanças a ele atribuídas são menos importantes e mais baseadas em estereótipos. Além disso, devido ao viés intuitivo, os NT não são apenas fetichizados e valorizados, mas também acabam absorvendo qualquer pessoa que tenha ou queira ter função pensamento (T) alta. A valorização do pensamento como superior ao sentimento e a criação de estereótipos junta duas tendências: a de que esses tipos são inteligentes e a de que esses tipos têm legitimidade para serem agressivos, ácidos ou simplesmente “babacas”. Isso também leva à comum assunção de que, se uma pessoa está agindo como babaca, ela está certa ou é inteligente. Todo esse caminho afeta os estereótipos de NT, e mais particularmente o INTJ. Aquele que quer se identificar com o tipo tenta se ver como inteligente, antes de mais nada, e carrega com isso a autoimagem de rude, porque ser rude “falando fatos” seria igual a ser inteligente, ou demonstraria que a inteligência ou os fatos são seu domínio. Com isso, demonstrar-se inabalado pelas reações alheias traz esse ar de superioridade e inteligência. Por fim, outros estereótipos importantes de serem debatidos são o de planejador, factual, prático, o de “sempre estar um passo à frente”, o de manipulador e o de frio. Cada um desses estereótipos tem um problema, mas em níveis bem diferentes.
A grande presença de pessoas que se identificam com o tipo pelo estereótipo de rude, direto e frio tem influência de vários tipos diversos, que convergem para o mesmo ponto por motivos diferentes: deve-se falar do sentimento inferior, da Se-auxiliar e do Fi-dominante. Por diferentes razões, essas funções podem querer comprar esses estereótipos. No caso do sentimento inferior (tanto Fi – ExTJ – quanto Fe – IxTP), o repúdio ao sentimento em posição vulnerável pode levar o indivíduo a se ver como lógico a partir da repressão da função sentimento, que cobra seu preço e volta com posturas autoritárias, rudes, tirânicas ou desnecessariamente provocativas. Esse fenômeno é diferente entre o Fi e o Fe inferiores, mas possuem o traço de abraçar a frieza em comum. O Sentimento Extrovertido inferior rejeita o ambiente valorativo em nome da independência, e pode acabar se orgulhando da rudeza como sinal de que sua postura analítica o afasta do objeto, dando uma sensação de independência autoafirmante. O Sentimento Introvertido inferior, também se muito reprimido ou ignorado, pode acabar aumentando a tirania do Te-dominante em termos de impor aquilo que vê como o funcionamento ou a equivalência das coisas, parando de atribuir valor às coisas a não ser que elas se provem úteis para as estruturas de pensamento construídas. Os dois fenômenos, mais comuns em homens, acabam afastando os indivíduos do convívio social – e, consequentemente, fortalecendo a autoimagem de “introvertidos” no sentido do senso comum. Isso é mais comum em homens porque a socialização masculina compele muitos garotos a reprimirem a função sentimento. Se ela já é inferior, ganha os contornos de repúdio ao valor. Ele também pode acontecer em mulheres, principalmente aquelas que rejeitam o “feminino” nos termos junguianos. Em mulheres que se identificam muito com certas expectativas associadas ao masculino, esse fenômeno também pode acontecer, e elas também são mais prováveis de se identificar como INTJ pelos estereótipos. É curioso notar, no entanto, que a Intuição Introvertida dominante é, em Jung, considerada a função mais feminina de todas, mesmo que seus usuários não necessariamente perfomem o feminino: ela é introvertida, perceptiva e intuitiva. Um fenômeno curiosamente semelhante pode acontecer em usuários de Sentimento Introvertido dominante, especialmente naqueles cujo Fi se manifesta da forma fria e autocentrada. Fugindo dos estereótipos que associam a função sentimento à alta agradabilidade do Big 5, esses IxFP podem se imbuir de uma autoimagem lógica, fria e racional, voltada para a satisfação das próprias vontades sem necessidade de externá-las. Embora pareça estranho, esse fenômeno é surpreendentemente comum, havendo vários IxFP que se veem como INTJ.
Os efeitos dessa confusão de tipos racionais (ou seja, tipos com pensamento ou sentimento dominante) como INTJ ofusca o papel da função irracional dominante e torna sua imagem muito mais definitiva e definidora, autoritária e dotada de divisórias claras. Pese o grande número de Fi-dominantes entre os mistypes como INTJ, é mais o pensamento dominante que alimenta esses estereótipos. Os Fi-dominantes que se identificam erroneamente como INTJ compram, na verdade, um estereótipo de pensamento dominante, daí que se percebe o grave descompasso entre sua autoimagem e sua função dominante. Não à toa, são muitos os casos de IxFP que tão gritantemente forçam o estereótipo de INTJ (que na verdade é mais de sentimento inferior) que podem ser notados de longe, por tentarem afirmar-se perante o objeto, ao mesmo tempo em que o Sentimento Introvertido faz com que eles estejam, de verdade, apenas autoafirmando-se de forma reativa.
Por outro lado, esses Fi-dominantes só se sentirão “manipuladores” se comprarem por completo o estereótipo do INTJ e se seu Sentimento Introvertido for realmente egoísta e muito autocentrado. O tema da manipulação é melhor analisado pelo problema dos ExTJ e IxTP. Aqui, há uma diferença importante: a autoimagem manipuladora desses tipos seria mais relacionada à função de julgamento extrovertido (Te ou Fe), que é dominante em um e inferior em outro. Além disso, a manipulação nos termos mais conhecidos é particular do Sentimento Extrovertido, porque diz respeito a manipulações emocionais, a controlar as expectativas dos outros para fins utilitários e a querer usar os valores alheios (ou seja, quais são as coisas mais importantes das pessoas) como estratégia. Por esse motivo, essa ideia de INTJ manipulador aconteceria mais e prioritariamente por influência de Ti-dominante sob uma influência ruim do Fe-inferior. Isso é muito possível de notar, nas comunidades específicas destinadas ao INTJ, pela grande presença de ISTP que se consideram desse tipo erroneamente. No entanto, existe também uma presença do Te na ideia de manipulação do INTJ que deve ser estudada. xxTJ são capazes de manipulação, assim como qualquer tipo, embora prefiram fazer isso no campo das estruturas impessoais, não usando o que as pessoas valorizam, mas sim o que sistemas impessoais coagem-nas a fazer. O problema é que muito poucos xxTJ realmente são manipuladores assim na vida real, porque sua postura mais construtiva com o Pensamento Extrovertido raramente os faz ter interesse em joguinhos ou coisas parecidas. O que acontece aqui é que muitos personagens fictícios desses tipos são manipuladores, porque funcionam como bons instrumentos de enredo que sejam assim. Na vida real, no entanto, as coisas são diferentes, e aqueles que se vestem do estereótipo de manipulador do INTJ claramente têm algum problema egoico no campo do julgamento extrovertido. Por fim, a manipulação também está atrelada à ideia de que o INTJ é capaz de prever o futuro, porque a Intuição Introvertida seria a função do futuro, o que é um erro discutido em outros textos. Mais além, deve-se notar que, para o intuitivo introvertido, o futuro só será importante se dele for extraído algum tipo de necessidade simbólica ou abstrata. Ou seja, a ideia de alguém preocupado com o futuro por suas implicações concretas é muito distante da Ni de fato.
Por fim, cabe falar da enorme presença da Se-auxiliar, mais que da Ne-auxiliar, no fortalecimento dos mistypes e estereótipos do tipo. Ou seja, ISxP são mais propensos a virarem mistype como INTJ que INxP. O problema começa na confusão geral entre Se e Te (discutida em posts anteriores sobre o fenômeno do mistype), que confunde a praticidade e a factualidade Se com a forma como o Te pode se orientar para utilitarismos que também focam em eficiência. Isso se soma à Ni-terciária dos ISxP, que é bastante propensa a uma identificação genuína com melhores descrições da Ni, porque muitos usuários de Ni-baixa são muito interessados no simbólico e no transcendental, embora façam isso sob seus próprios termos. O que acontece com tantos ISxP que se identificam como INTJ é que o estereótipo vai ficando muito mais factual, direto e até mesmo corporal e materialista, o que atrai para o mistype até mesmo os Se-dominantes (ESxP). Desconstruir ideias erradas ou preconceituosas sobre a Sensação Extrovertida e entender o papel da Ni baixa é o caminho fundamental para esses ISxP. Se for Fi-dominante, há que se vencer ainda mais um preconceito contra a função sentimento, comum entre aqueles que se veem como INTJ. Se for ISTP, é preciso saber diferenciar o método subjetivo do Ti com o método dependente do objeto do Te.
Para outros tipos, o caminho é diferente. Te-dominantes (ExTJ) precisam se desvencilhar da ideia de introversão social, já que eles podem ser muito reclusos socialmente. Também muitos precisam deixar de associar o Te-dominante a algo muito profissional, como se todos os Te-dominantes fossem orientados para a carreira ou para a eficiência empresarial. Ao tirar a individualidade e outros aspectos da vida do Te-dominante, e ignorar as vastas possíveis implicações teóricas do Pensamento Extrovertido, isso pode levar muitos desses tipos a se considerarem INTJ. Por fim, ainda cabe falar do irmão de dominante do INTJ, o INFJ, que, diante de tantas tendências de mistype, acaba aparecendo menos. No entanto, embora não seja comum em termos absolutos, é, em termos relativos, bastante comum aos INFJ que se vejam como INTJ em algum momento, já que os estereótipos de seu tipo não passam por nada teórico, científico ou “racional” e lógico, forma de que os INFJ, particularmente aqueles com maiores vínculos com o Ti-terciário, são propensos a se verem.
Os dois principais tipos a serem falados aqui são o ESFJ e o ISTJ. Não há tantos padrões de mistype que desembocam no ISFJ, sendo o tipo mais propenso a enviar mistypes para outros. De qualquer forma, influenciados pela lei geral, é relativamente comum que ESFJ acabem se vendo como ISFJ, embora, também pela lei geral, é possível que eles “pulem” essa etapa e façam o que aqui se chamará “mistype bypass”, quando muitas tendências da lei geral agem em conjunto e um indivíduo do tipo X se identifique erroneamente como o tipo Z, mesmo que o mais próximo fosse ser o tipo Y. Quando o ESFJ se identifica mais com os estereótipos associados aos xSFJ, ou mesmo quando leu sobre as funções Si e Fe, ele pode acabar se identificando como ISFJ, o que é algo totalmente compreensível, tendo em mente que o senso comum de extroversão social costuma ser muito exagerado, ainda mais para os ESFJ, ESFP e ESTP. Por esse motivo, o caminho aqui é simples e também é simples de ser revertido, embora possa ser difícil, a depender do quão convencida a pessoa estiver de ser introvertida. O ideal é comentar sobre as diferenças nas terciárias e inferiores. Entender o valor da Ne-terciária pode ser um ótimo caminho para os ESFJ que precisem se ver como tal (tanto aqueles que se veem como Ne-dominante, Ne-auxiliar ou Ne-inferior). O problema dos mistypes de ESFJ como ISFJ está no apagamento do Pensamento Introvertido terciário do ISFJ e da sobrevalorização do Sentimento Extrovertido auxiliar. A maioria dos estereótipos do ISFJ passa a ser, de forma muito simplista, o de um ESFJ mais passivo, mais retraído e mais calado. As nuanças da Si-dominante e do Ti-terciário se perdem e o ISFJ vira apenas um Fe tímido e passivo.
No entanto, até esse estereótipo mais genérico de pessoa sensível, passiva, gentil e dedicada pode acabar atraindo outros tipos: particularmente o ISTJ. Isso se dá porque o estereótipo do ISTJ é praticamente o oposto: pinta-se-o como insensível, áspero, totalmente inflexível e puramente robótico. É até curioso que dois tipos irmãos de dominante sejam tratados de forma tão diferente. Os únicos estereótipos que os unem são os negativos relacionados à Si: tratados como chatos, rotineiros, sem graça e excessivamente organizados, como já comentado. Acontece que a Si, como função de percepção introvertida, é sensível ao objeto, às informações que vêm de fora. Nem todos os Si-dominantes vão exibir uma sensibilidade como se imagina o termo (alguns sendo, sim, rígidos e agressivos pela teimosia, incluindo alguns ISFJ), mas um grande número se vê como sensível em todos os sentidos do termo. Esses também são os Si-dominantes mais propensos a se ver como INFP, dada a lei geral. Mas essa identificação também leva vários ISTJ a se acharem ISFJ, porque é o ISFJ que carrega a ideia de sensibilidade entre os Si-dominantes. Esses ISTJ se veem como calmos, dedicados, sociáveis, ligeiramente mais abertos que o estereótipo de seu tipo e menos inflexíveis. Podem se ver também como delicados e altruístas. A dedicação sacralizada da Si-dominante faz do ISTJ um dos tipos mais devotos e, por isso, se essa devoção envolver servir alguém, ele pode crer ter Fe.
Por fim, cabe comentar daqueles usuários de Si-terciária (INxP) que chegam a questionar se são ISFJ ou se têm Si-dominante. Devido ao pesadíssimo viés intuitivo aqui, é muito incomum que essas pessoas acreditem por completo que são ISFJ, o que, então, não configura mistype. No entanto, o curioso aqui é notar que muitos desses INxP se sentem mais confortáveis em cogitar que são ISFJ do que os próprios Si-dom que se consideram INxP, porque, enviesados pela lei geral do mistype, recusam qualquer identificação com a Sensação Introvertida, enquanto aqueles INxP com bastante contato com a Si-terciária podem acabar cogitando mais facilmente e se identificando em alguns pontos com usos (geralmente mais simplistas) dessa função. Esse fenômeno, que acontece em outros tipos de formas diferentes, é uma boa ilustração do poder do viés que afeta as identidades individuais na tipologia. Seria até possível prever que, ao ler este parágrafo, um ISxJ que se creia INxP passasse a cogitar ser ISxJ apenas para validar-se como INxP. De qualquer forma, seria um primeiro passo importante para essas pessoas.
Parte do estereótipo exagerado do ISTJ vem dos ESTJ que, confundindo extroversão junguiana com extroversão social, acreditam-se ou são acreditados ISTJ. Como os estereótipos exagerados de ESTJ vão sempre para alguém mandão, profissional, muito prático e autoritário, agressivo e demandante, aqueles que não se encaixam podem se ver ou serem vistos como ISTJ. Todos aqueles ESTJ calmos, “certinhos”, gentis, teóricos, estudiosos, pouco sociáveis, ou pelo menos minimamente menos mandões já podem ser classificados como ISTJ pelos estereótipos, e virarem mistype. A consequência disso é a sobrevalorização do Te na imagem que se tem dos ISTJ. Isso não é um fenômeno muito forte, já que os ESTJ se espalham por vários outros tipos, mas tem suas implicações nos estereótipos do ISTJ. Uma delas é tratas o ISTJ como se fosse um tipo racional. Os ISTJ podem ser dotados de muitos princípios, mas submetem esses princípios ao campo da percepção e da sacralização das experiências da Si-dominante. Ao se colocar o ISTJ como um “robô” apenas seguidor de regras, a primeira coisa que se faz é afastar qualquer pessoa de se identificar com o tipo. Ninguém é nem quer ser um mero seguidor de regras. Mais além, deve-se analisar as causas de a pessoa seguir tais regras. Se há uma âncora na justificativa lógica e nos princípios claros que devem ser seguidos, há chance de a pessoa ser, na verdade, de pensamento dominante (como o ESTJ), por ser de tipo racional. Diferenciar isso requererá mostrar ao ESTJ a diferença entre as versões terciária e inferior da Ne e do Fi, e desconstruir os pontos dessas funções baixas.
Outros tipos que podem ser mais atraídos a se considerar ISTJ são o ISTP, o INTP, o ENTJ, o INTJ e o ISFJ, embora o caminho contrário seja muitíssimo mais comum para todos – ou seja, há inúmeros ISTJ que se acreditam ISTP, INTP, ENTJ, INTJ e ISFJ). ISTP, INTP e ENTJ seguem o princípio do ESTJ e podem confundir sua função racional dominante com os principais estereótipos do ISTJ. O ISFJ pode se ver como racional e analítico demais (principalmente se influenciado pela função terciária) para se identificar com os estereótipos demasiadamente passivos, gentis e orientados para as pessoas de seu tipo.
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